Importação de arroz é cruel com produtor gaúcho, diz economista da Federação Agrícola do RS
Governo anunciou compra de 1 milhão de toneladas no mercado externo
O setor agrícola do Rio Grande do Sul avalia que a decisão do governo federal de importar um milhão de toneladas de arroz para vender diretamente ao consumidor vai comprometer a competitividade dos produtores nacionais e desestimular o plantio do grão nas próximas safras.
O estado é o maior produtor do grão no país, responsável por 70% da produção nacional.
As duas medidas provisórias que foram publicadas pelo governo preveem gasto de R$ 7,2 bilhões para a operação de compra do arroz no mercado internacional para abastecer até hipermercados em sete estados brasileiros.
O preço vai ser tabelado em R$ 4 e o arroz será vendido num pacote de 2 quilos com logomarca do governo federal na embalagem.
“O governo usou a crise no RS para justificar o que já queria fazer desde final do ano passado. O que vai ser cruel para o estado porque o produtor daqui não tem como concorrer com esse preço de R$ 4. Para produtores serem competitivos vão ter que operar em prejuízo”, disse à CNN Antônio da Luz, economista-chefe da Federação Agrícola do RS, Farsul.
Para o economista, ao anunciar que iria importar arroz, o governo causou reação do mercado e dos consumidores.
Com receio de que o risco de desabastecimento fosse real, a venda do arroz disparou e com ela, os preços. Na região do Mercosul, a alta no valor chegou a 30%, o que fez o governo desistir de um primeiro leilão para compra.
“Sabemos que medidas como essa tem efeitos, porque quando o governo se mete nos preços, os preços sobem. Comprar 1 mi de toneladas significa 10% do consumo anual do país. O governo causou corrida ao mercado e alta dos preços, uma sucessão de trapalhadas”, afirma Antônio da Luz.
A preocupação com o abastecimento também não faz sentido, segundo da Luz. Segundo ele, a indústria brasileira importou, entre janeiro e abril, 564 mil toneladas, ou seja, o próprio mercado já se encarregou de abastecer o país.
“Não existe risco nenhum de abastecimento. A própria Conab fez a conta sobre a provável perda do Rio Grande do Sul, e ela é de 200 mil toneladas.
Mesmo assim, o Brasil vai colher 670 mil toneladas a mais que ano passado em todo país, ou seja, está mais do que compensada a perda no estado”, ressalta o economista-chefe da Farsul.