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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Tomada da importante cidade de Avdiivka e o impasse sobre a ajuda bilionária dos EUA deixam Kiev mais exposta que nunca

    Quando a guerra começou, acreditava-se que a Rússia poderia tomar Kiev em três dias, mas, no sábado, 24 de fevereiro, a guerra entrou em seu terceiro ano.

    A resistência ucraniana surpreendeu, mas o fardo aumenta conforme o conflito se arrasta. E dois grandes reveses coincidem com a data: a queda de Avdiivka e o impasse sobre a ajuda bilionária americana.

    A captura da cidade industrial, na disputada região oriental de Donetsk, em 17 de fevereiro, foi a vitória russa mais significativa desde a tomada de Bakhmut, em maio de 2023.

    Soldados ucranianos ainda relataram que a retirada de Avdiivka foi mal planejada e começou tarde demais.

    Uma chamada de vídeo, à qual a CNN teve acesso, reproduz a conversa de um soldado ferido, Ivan, após a tomada de Avdiivka, conversando com sua irmã, Kateryna, em pânico.

    “Todo mundo saiu, todo mundo recuou. Eles nos disseram que um carro iria nos buscar. Estou com as duas pernas quebradas e estilhaços nas costas. Eu não posso fazer nada”, disse o soldado.

    A irmã dele, chorando, pergunta: “Você está sozinho?”. E ele responde: “Não, estamos em seis”.Ivan e outros soldados não conseguiram sobreviver.

    Os ucranianos acreditavam que a Rússia iria libertá-los em troca de prisioneiros. Mas, em vez disso, receberam um vídeo deles mortos.

    A defesa ucraniana já estava abalada com o fracasso da contraofensiva do verão de 2023, que reforçou a superioridade do exército russo.

    Com uma população três vezes maior do que a da Ucrânia, a Rússia elevou em um terço o seu número de tropas nos territórios ocupados no último ano.

    Moscou agora controla quase um quinto da Ucrânia, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.

    Potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, anunciaram diversas sanções contra a Rússia desde o início da guerra.

    Só na União Europeia foram 13 rodadas de penalidades. Mas a tentativa de atingir financeiramente os russos não teve o resultado esperado.

    O estreitamento dos laços comerciais com países como a China e a Índia atenuou os efeitos das punições.

    Putin manteve os investimentos militares e anunciou que 95% das forças nucleares estratégicas do país foram modernizadas, incluindo quatro novos bombardeiros supersônicos.

    Escassez crítica de munições e soldados

    A Ucrânia precisa urgentemente de dinheiro e equipamentos estrangeiros para resistir, e a escassez de soldados e munição é “crítica”, como definem as próprias autoridades ucranianas.

    Em uma carta à União Europeia, o ministro da Defesa da Ucrânia disse que a situação é “crítica”.

    Segundo ele, o “requisito mínimo diário absoluto de munições” seria de 6 mil projéteis, mas suas forças conseguem disparar só 2 mil por dia.

    As forças armadas ucranianas somam cerca de 800 mil homens, enquanto Putin elevou as forças russas em 170 mil soldados em dezembro, para 1,3 milhão.

    Para compensar a falta de soldados, o Parlamento da Ucrânia tem discutido, em meio a intensos debates, um projeto de lei que poderia levar ao alistamento de até 500 mil pessoas.

    Mesmo se aprovado, faltariam recursos para treinar e equipar as tropas.

    Quem está na batalha relata os desafios de conter um inimigo mais equipado.

    Em entrevista à âncora da CNN Christiane Amanpour, um sargento descreve a situação dramática.

    “Há uma escassez catastrófica de pessoas. O mesmo com armas. Não há projéteis suficientes para artilharia e tanques, ou para os próprios tanques e artilharia.”

    Com dificuldades no solo, os ucranianos tentam vencer a disputa no ar, apostando na tecnologia de drones, equipamentos baratos, capazes de vigiar movimentos inimigos e fazer ataques com grande precisão.

    Kiev teve um boom na produção e inovação de drones, mas após investimentos robustos, Moscou anulou a vantagem inicial da Ucrânia.

    Fadiga

    A invasão da Ucrânia é o maior —  e mais mortal — ataque de um país contra outro na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

    Americanos e europeus se mobilizaram para defender os ucranianos com medo das consequências globais de uma vitória da Rússia.

    Mas, depois de três anos de guerra, os altos gastos com o conflito são questionados internamente em muitos países e Kiev parece mais exposta do que nunca.

    A desvantagem de armas e soldados é consequência direta do orçamento de defesa de cada lado.

    Em 2024, a Rússia pretende investir US$ 109 bilhões em defesa, mais do dobro da meta da Ucrânia — com US$ 44 bilhões.

    Nos Estados Unidos um pacote de US$ 61 bilhões de ajuda à Ucrânia está travado na Câmara dos Representantes por republicanos alinhados a Donald Trump.

    O ex-presidente e provável candidato republicano à Presidência tem criticado os gastos com a guerra e também a Otan, a aliança militar entre americanos e europeus, fundamental para o suporte aos ucranianos.

    No início deste ano, a União Europeia aprovou um pacote de ajuda de US$ 54 bilhões. Apesar do esforço orçamentário, uma pesquisa feita entre países do bloco mostrou que só 10% dos entrevistados acreditam que a Ucrânia possa derrotar a Rússia.

    Diante do pessimismo, cresce a pressão sobre Kiev para buscar uma forma diplomática de encerrar o conflito com a Rússia, mas um acordo parece inalcançável.

    Zelensky diz que não aceita nenhum tipo de solução que não envolva a devolução de territórios. Já Putin diz ser uma afronta qualquer negociação que envolva abrir mão de suas conquistas.

    No aniversário de dois anos da guerra, imagens correm o mundo mostrando cemitérios lotados, casas de reabilitação ucranianas repletas de combatentes feridos e muitos deles amputados, além de famílias com dificuldade de continuar suas rotinas após a morte de entes queridos.

    São retratos que lembram o enorme custo humano desta guerra que inicia seu terceiro ano — e ainda sem previsão de quando o sofrimento vai acabar.