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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Entenda as concessões feitas pelos EUA e aliados à Ucrânia para conter Putin

    Autorização do uso de armas ocidentais em solo russo, liderada pela França e seguida por EUA e Alemanha, pode mudar o rumo da defesa ucraniana em Kharkiv

    As potências ocidentais sempre tiveram o cuidado de evitar uma escalada com a Rússia, mas nesta semana deram um novo passo no seu apoio militar à Ucrânia.

    Desde a invasão russa, em fevereiro de 2022, os Estados Unidos e os aliados europeus se mobilizaram para ajudar Kiev em sua autodefesa, mas sempre hesitaram em adotar medidas que representassem qualquer suporte aos ucranianos para atacar a Rússia em seu território.

    O uso de armas fornecidas pelo Ocidente em solo russo, portanto, era uma linha vermelha.

    Mas a ofensiva iniciada por Moscou em 10 de maio em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, a 20 quilômetros da fronteira com a Rússia, fez as potências ocidentais reconsiderarem sua posição.

    A segunda maior cidade da Ucrânia tem sido atacada por mísseis terra-ar e bombas planadoras, disparadas por aviões do espaço aéreo russo.

    Um dos ataques mais intensos atingiu uma loja de bricolagem no sábado (25) e deixou pelo menos 16 pessoas mortas. E nesta sexta-feira (31), três pessoas morreram em um bombardeio a um prédio residencial em um subúrbio da cidade.

    Não há "um único objeto militar" perto do hipermercado civil, disse Oleh Syniehubov, chefe da administração militar regional de Kharkiv.
    Não há “um único objeto militar” perto do hipermercado civil, disse Oleh Syniehubov, chefe da administração militar regional de Kharkiv. / Valentyn Ogirenko/Reuters via CNN Newsource

    A nova ofensiva aprofundou a percepção de que a Ucrânia vive a sua pior crise desde o início do conflito e aumentou a pressão por concessões dos seus aliados.

    A resposta começou pela França. Na terça-feira (28), em uma coletiva de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz, o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que as armas francesas enviadas à Ucrânia, incluindo mísseis de longo alcance, foram autorizadas a atingir bases dentro da Rússia.

    Macron usou mapas para defender a sua posição e disse que a Rússia estava bombardeando Kharkiv a partir de seu próprio território.

    Ele argumentou que manter a restrição sobre o uso das armas em solo russo seria o mesmo que dizer à Ucrânia: “Estamos entregando armas a vocês, mas vocês não podem se defender”.

    A Alemanha, o maior financiador militar de Kiev, atrás apenas dos Estados Unidos, também deu aval para que tanques enviados por Berlim fossem usados para atacar o território russo.

    Scholz ecoou Macron e disse: “Temos que dizer isto claramente: [a Ucrânia] está sob ataque e pode se defender.”

    O chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron, falam com os repórteres após uma reunião conjunta do gabinete franco-alemão nesta terça-feira (28)
    O chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron, falam com os repórteres após uma reunião conjunta do gabinete franco-alemão nesta terça-feira (28) / ZDF POOL / REUTERS

    Após a movimentação dos europeus, nesta sexta-feira, autoridades americanas confirmaram à CNN que o presidente americano Joe Biden também deu permissão à Ucrânia para usar armas fornecidas pelos EUA para atacar alvos na Rússia.

    O afrouxamento das restrições marca uma ruptura importante. E aumenta o temor de uma resposta russa à altura. Por isso, os aliados ocidentais tentaram ser cautelosos e ponderaram que a concessão foi dada, mas com restrições.

    Kiev só pode atingir alvos na fronteira perto de Kharkiv. A Ucrânia também não pode usar qualquer munição. Washington enfatizou que a melhor arma transferida aos ucranianos, os mísseis ATACMS, com alcance de 300 quilômetros, não devem ser usados.

    O presidente russo, Vladimir Putin, reagiu às medidas e disse que o uso de armas fornecidas por potências ocidentais contra o território russo levaria a sérias consequências e mais uma vez levantou o risco de guerra nuclear.

    Na sexta-feira, o Kremlin também afirmou que as concessões dizem muito sobre o grau de envolvimento do Ocidente no conflito e acrescentou que o “clima pró-guerra na Europa” estava evoluindo para uma “histeria pré-guerra”.

    Prédio residencial danificado por ataque aéreo russo em Kharkiv, Ucrânia / 14/05/2024 REUTERS/Valentyn Ogirenko

    Logo em seguida, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que ameaças russas não são novidade e acontecem sempre que a Otan demonstra apoio à Kiev.

    Sobre o risco de uma escalada da guerra, Stoltenberg ironizou dizendo que foi a Rússia quem escalou as tensões ao invadir outro país.

    Ele também disse que a Ucrânia tem o direito de se defender e que isso não faz a Otan e seus membros serem parte da guerra.

    Ainda nesta semana, o principal general dos EUA havia dito que Washington não cederia sobre o uso dos armamentos americanos em solo russo porque “se tratava de uma guerra na Ucrânia, e não entre os Estados Unidos e a Rússia, ou entre a Otan e a Rússia”.

    A fala não deixa dúvidas: os americanos sabem que a concessão feita nesta semana representa um aumento do envolvimento dos aliados na guerra.

    As consequências do apoio das potências ocidentais à Ucrânia para ataques em território russo são desconhecidas – tanto em termos da eficácia para repelir a ofensiva em Kharkiv, quanto em relação à escalada do conflito.

    Mas para o bem da Ucrânia e dos países envolvidos, espera-se que Stoltenberg esteja certo e as ameaças nucleares de Putin sejam apenas um novo blefe.