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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Eleições europeias serão marcadas por avanço da extrema direita e euroceticismo

    Eleições do Parlamento Europeu, entre 6 a 9 de junho, devem estampar como extrema direita assimilou o medo e a descrença sobre a economia para avançar na Europa

    Os 27 países da União Europeia (UE) vão às urnas entre 6 e 9 de junho para eleger os seus representantes no Parlamento Europeu.

    Mais de 330 milhões de europeus estão aptos a votar para escolher 720 legisladores nas eleições de 2024.

    Uma das iniciativas políticas mais ambiciosas do mundo, a União Europeia tem sido criticada pela falta de representatividade e capacidade de influenciar mudanças.

    E as eleições para o Parlamento, que acontecem a cada cinco anos, são a única forma de os cidadãos europeus influenciarem as decisões políticas do bloco.

    A União Europeia se divide em quatro principais instituições:

    • o Conselho Europeu, que define as prioridades da UE e reúne dirigentes nacionais e do bloco;
    • o Parlamento Europeu, que representa os cidadãos europeus por meio dos eurodeputados;
    • a Comissão Europeia, que defende os interesses da UE no seu conjunto, composta por membros indicados pelos governos nacionais;
    • e o Conselho da União Europeia, no qual os países defendem os seus interesses nacionais.

    O Parlamento é a única instituição diretamente eleita. Não tem tanto poder como a Comissão Europeia e os governos dos países-membros, mas decide sobre as leis propostas pela Comissão junto com os governos e pode rejeitar ou alterar as legislações.

    E como é a única instituição da UE eleita pelos cidadãos, os seus pronunciamentos têm poder político.

    Os resultados das eleições afetarão as políticas do bloco, que tem um mercado de 450 milhões de pessoas, para a próxima meia década. E interessam para o resto do mundo porque são um raro termômetro sobre o estado de espírito político da Europa.

    Partidos centristas devem perder espaço

    Os candidatos são eleitos pelos partidos ao qual são afiliados nos seus países, mas ao entrar no Parlamento aderem a grupos políticos, não por nacionalidade, mas por orientações ideológicas que refletem a política do seu partido de origem.

    Existem sete grupos políticos no Parlamento Europeu. O Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, tem o maior número de assentos (176) e, segundo as pesquisas, deve manter a liderança na próxima legislatura.

    O segundo maior é a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), de centro-esquerda, com 144 eurodeputados.

    Em terceiro lugar, está o Renew, de orientação liberal, pró-União Europeia, que ora se engaja com os conservadores, ora com os socialistas e tem 102 cadeiras. Em quarto, estão os Verdes, dos políticos com bandeira ambientalista, com 71 eurodeputados.

    Visão geral do edifício do Parlamento Europeu em Estrasburgo, França / 24/11/2021 Julien Warnand/Pool via REUTERS

    Empatados em quinto lugar, com 64 assentos cada, estão os grupos de extrema direita que defendem políticas anti-imigração, nacionalistas e são eurocéticos: Identidade e Democracia (ID) e Conservadores e Reformistas Europeus (ECR). E em último lugar, com a menor força (38 assentos), está o partido de extrema esquerda The Left.

    As pesquisas indicam que as eleições de 2024 devem ampliar a participação dos grupos de extrema direita, que podem até ocupar um quarto dos assentos, acima dos 17% de hoje.

    Segundo as sondagens, os grupos centristas – PPE, S&D -, os liberais do Renew e os Verdes terão uma maioria menor: devem ficar com cerca de 450 cadeiras na Câmara de 720 membros, ou 62,5% dos assentos – ante os 491 assentos no atual Parlamento de 705 membros, ou 69% dos assentos.

    O grupo de extrema direita ID deve passar de 64 assentos para 80. A agremiação inclui membros do Rally Nacional, da francesa Marine Le Pen, e do Lega, do italiano Matteo Salvini.

    Até 23 de maio incluía também o Alternativa para a Alemanha (AfD), que foi expulso depois dos comentários feitos pelo seu principal candidato, Maximilian Krah, que disse que os membros da guarda de elite nazista SS “não eram todos criminosos”.

    Insatisfação social e medo impulsionam extrema direita

    O Eurobarómetro, ferramenta de pesquisa da própria União Europeia, revelou em abril os principais temas de interesse dos eleitores sobre o pleito europeu, que trazem sugestões sobre os motivos por trás da ascensão da extrema direita.

    Temas como as mudanças climáticas perderam espaço nos discursos dos candidatos em relação às eleições passadas, de 2019. E desde 2022, a guerra na Ucrânia, a inflação, o aumento do endividamento e a crise agrícola passaram a ser questões centrais nas campanhas.

    Em toda a UE, o combate à pobreza, à exclusão social, a saúde pública, o apoio à economia e à criação de emprego e a segurança foram identificados como os temas que deveriam ser priorizados, segundo o Eurobarómetro.

    Apesar de a pandemia e o conflito na Ucrânia terem acentuado o sentimento de insatisfação social e as preocupações com a economia, esse é um movimento que começou com a crise financeira global de 2008, que desencadeou a descrença no sistema capitalista e neoliberal.

    Mas o que poderia ser visto como a falência do neoliberalismo passou a ser assimilado como uma repulsa a qualquer manifestação política que representasse o status quo.

    Isso aconteceu depois que grupos de extrema direita interceptaram a insatisfação crescente passaram a culpar os modelos atuais pelas mazelas do mundo.

    Grupos radicais captaram a piora das condições financeiras, a insegurança em relação ao futuro e a sensação de incerteza existencial que sempre esteve presente para ganhar espaço. Para alguns países, com criminalidade elevada, o medo físico também foi explorado.

    Parlamento europeu após discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky / Foto: EBS+/Reuters

    Com as redes sociais, discursos populistas e a exploração do medo, que tinham menos espaço em veículos de mídia tradicionais, ganharam a possibilidade de ser muito capilares.

    Em dez dias, o pleito europeu deve trazer um quadro claro dos resultados desse movimento.

    O Parlamento Europeu já dá sinais de que a maior fragmentação política tem paralisado projetos e decisões importantes, como no campo ambiental.

    Os eurodeputados que ganham espaço criticando os modelos atuais não trazem propostas sólidas para um novo sistema. Seus discursos se concentram mais na crítica pela crítica do que em soluções.

    E assim as Eleições Europeias de 2024 e um Parlamento mais fragmentado podem contribuir aprofundar ainda mais a descrença sobre um dos modelos de cooperação global mais audaciosos que o mundo já conheceu.