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    Priscila Yazbek
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    Priscila Yazbek

    Correspondente em Paris, Priscila é apaixonada por coberturas internacionais e econômicas — e por conectar ambas. Ganhou 11 prêmios de jornalismo

    Discurso anti-imigração deixa de ser exclusividade da ultradireita na Europa

    Líderes devem defender regras mais duras para imigração nesta semana na União Europeia diante do crescente incômodo da maioria dos europeus

    O debate sobre a imigração se intensificou na Europa nos últimos meses, em campanhas eleitorais, no noticiário e no âmbito da União Europeia. Até partidos de esquerda passaram a defender medidas mais restritivas aos estrangeiros, a despeito da queda nas imigrações ilegais.

    Nesta semana, estão previstas importantes discussões sobre o tema. Segundo o jornal Político Europe, especializado em notícias da União Europeia, os líderes do bloco europeu devem defender novas diretrizes sobre deportações quando se reunirem em Bruxelas em 17 de outubro.

    O primeiro-ministro da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, disse na quarta-feira (9) que o país pedirá à Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco, que o Pacto Europeu sobre Migração e Asilo seja implementado um ano antes do previsto, em 2025.

    Concluído em abril deste ano, o conjunto de regras para controlar a chegada de requerentes de asilo cria um mecanismo de solidariedade obrigatória entre os Estados.

    O pacto prevê que todos os países contribuam para aliviar a pressão sobre o sul da Europa, já que a maioria dos imigrantes chegam pelo mar à Itália, Grécia e Espanha.

    Na última segunda-feira (7), um grupo de 17 países europeus divulgou um documento que pede mudança de paradigma na política de migração para garantir que os requerentes de asilo com pedidos negados sejam rapidamente deportados.

    O documento foi liderado pela Áustria e pela Holanda, e apoiado, entre outros países, pela França, Alemanha e a Itália.

    Os movimentos para endurecer as regras acontecem mesmo diante da queda de 39% das chegadas de imigrantes ilegais nos primeiros oito meses de 2024, para o número de 140 mil pessoas.

    Cerca de 115 mil imigrantes sem documentos, menos de 0,03% da população da UE, que é de 450 milhões de pessoas, chegaram ao bloco neste ano via Mediterrâneo ou Atlântico, ante 176 mil no mesmo período do ano passado.

    No auge da crise migratória, em 2015, 1 milhão de pessoas entraram na UE ilegalmente.

    A imigração é apontada como a causa de vários problemas, como desemprego, insegurança, tráfico de drogas, entre outros, desafios muito mais difíceis de se resolver do que fechar uma fronteira.

    Mas a ultradireita descobriu no discurso anti-imigração uma forma de captar o medo do eleitor europeu e propor soluções simples para problemas complexos — e como o medo é um sentimento muito potente, houve forte aderência.

    Imigrantes em Lampedusa • 18/9/2023 REUTERS/Yara Nardi

    O envelhecimento da população também explica a rejeição aos imigrantes. Com a chegada de pessoas de outros continentes e de diferentes religiões, os europeus estão vendo uma rápida mudança de ambiente. E muitos acreditam que os partidos que prometem menos imigrantes podem endereçar suas preocupações.

    A rejeição aos imigrantes chegou a tal ponto que mesmo partidos de esquerda tiveram que superar ideologias, em prol de sua sobrevivência. Um perfeito exemplo da realpolitik, quando a busca pelo poder se sobrepõe aos fundamentos morais.

    De acordo com uma pesquisa da BVA Xsight, realizada a pedido do canal franco-alemão Arte, sete em cada dez europeus acreditam que seu país recebe muitos imigrantes, e 85% defendem que a União Europeia adote mais medidas de combate à imigração ilegal.

    Com a maioria da população favorável a políticas mais restritivas, a pauta anti-imigração se tornou a principal responsável pelo avanço partidos de ultradireita nos pleitos realizados ao longo dos últimos anos.

    Não à toa, anúncios de medidas para reduzir a entrada de estrangeiros vêm a reboque das eleições.

    Para dar apenas alguns exemplos, na Alemanha, a reintrodução de controles de fronteira ocorreu depois da derrota do Partido Social Democrata, de Olaf Scholz, pelo partido de ultradireita AfD.

    Na França, a ascensão da ultradireita nas eleições legislativas levou o novo governo de Michel Barnier a defender uma posição firme sobre os imigrantes.

    Com o Parlamento Europeu mais inclinado à direita após as eleições europeias, líderes acreditam que uma nova diretiva pode ser votada também no bloco.

    Países devem pressionar a Comissão Europeia a adotar políticas de transferência de requerentes de asilo para outros países, inspirados no modelo que a Itália está executando com a Albânia.

    Mas, com políticas como essa, o bloco corre o risco de desmantelar sua legislação sobre asilo e proteção de refugiados.

    O timing para partidos de esquerda sucumbirem ao discurso anti-imigração não podia ser pior. Conflitos e tragédias climáticas se intensificam no mundo. E a “solução” defendida por alguns líderes europeus de fechar fronteiras e empurrar estrangeiros para outros países só tende a aprofundar ainda mais a crise migratória atual.

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