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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Comunicador, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019. Empreendedor serial, fundador da Albuquerque Content e da Intrend.AI

    Uma nova guerra fria tá rolando há anos e pouca gente percebeu

    Talvez porque, dessa vez, o arsenal não é de armas nucleares, mas de patentes de inteligência artificial. Um spoiler: a China tá ganhando de lavada!

    Se você não aguenta mais sequer ouvir falar de inteligência artificial, eu sou a pessoa que vai te dar a má notícia: só vai piorar! Piorar do ponto de vista de quem tá cansado do assunto, porque, em linhas gerais, os números mostram que essas tecnologias só vão crescer e ficar cada vez mais prontas pra ajudar mais pessoas e mais empresas. Mas, pra entender isso, a gente precisa parar de olhar as IAs só como inimigas, como única e exclusivamente grandes vilãs tomadoras de empregos.

    É claro que é muito cômodo falar sobre a importância dessa compreensão do alto da minha montanha de privilégios. Eu tenho várias fontes de renda, ganho mais do que eu preciso pra viver e consegui montar um currículo e uma rede de contatos que fazem ser um pouco difícil eu ser totalmente ignorado pelo mercado.

    É bem mais complicado pensar sobre isso com tranquilidade e uma linha de raciocínio otimista quando a única fonte de renda é um emprego operacional que paga mal e que é o que tem pra hoje pra sustentar a família. Eu entendo, eu já tive nesse lugar.

    E, realmente, quem faz trabalhos que são repetitivos, burocráticos e/ou que não precisam de interações humanas pode, sim, perder espaço pra uma IA, assim como trabalhadores braçais foram substituídos por máquinas a vapor no século 18, quando chegou a Revolução Industrial. Essa, aliás, é uma analogia importante pra entender de um jeito mais macro o que tá rolando na nossa sociedade.

    Levando em consideração que esse é um caminho sem volta, a única opção é estudar e aprender a usar as IAs a nosso favor, aprender como essas plataformas podem e vão otimizar o nosso trabalho, trazendo muito mais eficiência pro jogo. No fim das contas, é pra isso que elas tão sendo criadas.

    Não é fácil fazer essa transição, mas esse é o caminho, segundo praticamente todos os grandes especialistas com quem eu já conversei sobre o assunto.

    E a questão é que as novas IAs tão sendo criadas num ritmo impossível de acompanhar muito de perto sem perder nada. Não existem nem dados oficiais exatos de quantas IAs já existem, mas a gente tem números que mostram quantas novas delas devem aparecer nos próximos meses e anos.

    São dados que eu achei num site que eu gosto demais, o visualcapitalist.com, que serve como um termômetro bastante importante de tudo o que tá rolando no mundo em termos de inovação e relações de poder entre as grandes economias.

    Nesse contexto, a China vem se consolidando cada vez mais como a grande estrategista desse tabuleiro. São públicos os planos chineses de dominar o mercado global de IA até 2030. Mas, no quesito registros teóricos, eles já conseguiram isso.

    Acredite ou não, mas 61% de todas as patentes de inteligências artificiais no mundo foram concedidas pra China. Foram mais de 35 mil patentes só em 2022, o último ano com esses dados disponíveis. Imagina quando forem divulgados os números do ano passado. Todos os outros países somados não chegam nem perto do que a China sozinha tem em registros de novas plataformas e modelos de IA.

    E eles, logicamente, não tão fazendo tudo isso à toa. A McKinsey, que é uma das consultorias mais influentes do mundo, fez um estudo em 47 países e chegou à conclusão de que as IAs generativas (aquelas que geram informações do zero, como o ChatGPT e o Bing) podem ser o pivô da geração de até US$ 4,4 trilhões por ano na economia global.

    Isso dá duas vezes o PIB do Brasil, que é absolutamente tudo que o nosso país produz de grana ao longo de um ano com bens, produtos e serviços. Bizarro, né?! É muito dinheiro a mais no mercado. Uma grana que, se bem aplicada, pode ser usada pra melhorar a vida de todo mundo. Se a maior parte desses recursos forem pra China, imagina o que eles podem criar nos próximos anos.

    É super cabível o questionamento sobre a distribuição dessa grana nova. Seria minimamente decente da parte das nações que tão na vanguarda dessas discussões usar parte dessa fortuna bizarra pra treinar os trabalhadores que vão, sim, perder os empregos, isso é inegável. Eles vão precisar se recolocar e é injusto deixar a responsabilidade dessa transição só nas mãos deles, sem nenhum tipo de ajuda ou orientação. E só cabe à sociedade fazer essa cobrança.

    Olhar a concessão de patentes é, certamente, uma das melhores maneiras de tentar entender pra onde essa guerra fria tecnológica tá indo. O mundo passou a falar de inteligência artificial com força nos últimos dois anos. A China já registra mais patentes de IA que os Estados Unidos desde 2013. E isso não pode ser ignorado.

    Repito: você pode até não gostar de falar sobre esse assunto, mas, por favor, não ignore a existência dele. Se fizer isso, só você vai sair perdendo, e não é pouco. Ter consciência do momento de sociedade que a gente vive é fundamental pra dançar conforme a música e encontrar um lugar confortável nesse universo de mudanças. Se você acha que ainda precisa estudar muito sobre o assunto, estude.

    Tenha certeza de que a revolução não vai acontecer, ela já tá em andamento. E, ao que tudo indica, a liderança isolada dessas discussões, surpreendentemente, não fala inglês.

    Pesquisa mostra impacto da Inteligência Artificial no futuro do trabalho