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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Comunicador, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019. Empreendedor serial, fundador da Albuquerque Content e da Intrend.AI

    SXSW e a internet que é de todo mundo e ao mesmo tempo de ninguém

    Por mais contraditória que essa frase pareça, um dos principais relatórios de tendências do festival de inovação do Texas aponta pro futuro da internet descentralizada

    Você já deve pelo menos ter ouvido falar sobre o SXSW, o festival lá dos Estados Unidos que virou referência em inovação, levando os olhos do mundo da tecnologia pra cidade de Austin, no estado do Texas. No desse ano, como sempre, as discussões tão mudando o jeito como a gente entende esse momento tão desafiador da tecnologia. É como se tudo que a gente sabe sobre os assuntos ficasse ultrapassado do dia pra noite… e às vezes é literalmente assim mesmo que as mudanças rolam com a chegada de tanta ferramenta nova, principalmente de inteligência artificial.

    Entre os muitos assuntos que 2024 levou pra lá, eu separei um relatório extremamente completo (e de uma certa forma complexo) da Future Today Institute, uma consultoria de previsões estratégicas que faz um relatório sobre o cenário tech mundial com mais de um milhão de downloads por ano. Eles acompanham mais de 700 trends de tecnologia e ciências pra trazer esses dados. O documento desse ano tem quase 1000 páginas e tá dividido em 16 áreas principais de interesse. Dessas 16, eu separei 1, que, acredito eu, não vem sendo tão bem explorada quanto merecia: a Web 3.

    Se você não tá familiarizado com o conceito, tudo bem. Antes de falar sobre as tendências desse relatório, eu vou conceituar alguns detalhes importantes pra todo mundo entender de verdade todos os pontos que eu decidi trazer aqui. E mesmo que você já saiba o significado de tudo isso, eu gosto de tentar ser o mais didático possível até mesmo pra eu conseguir ligar melhor os pontos. E, no fim das contas, conectar tecnologias que já existem separadamente é o jeito mais inteligente de ter eficiência no dia a dia e afastar o risco de não usar tecnologia nenhuma por se sentir perdido com o excesso de opções e de informação.

    Tudo começou com a Web 1

    Vamo lá, então… na jornada evolutiva da internet, a Web1 foi a primeirona, lá dos anos 90. Nessa época (eu lembro bem porque eu tava lá), os sites eram bem paradões, tinham basicamente só textos e alguns poucos vídeos de péssima qualidade.

    Na Web 2 o negócio começou a melhorar bem, a infraestrutura cresceu pra caramba, os vídeos em alta resolução chegaram e fizeram todo mundo começar a olhar pro computador como “a nova TV”, no sentido de ser uma plataforma pra consumir conteúdo audiovisual de qualidade, o que abriu caminho pros streamings, que logo chegaram nos celulares, tablets, que também viram as redes sociais explodirem, trazendo a interação absoluta pra dentro do on-line.

    Agora, a gente tá entrando na Web 3, que quer mudar as regras de como a gente entende todo esse ecossistema. Essa é a fase que entende a internet como sendo de todo mundo e de ninguém ao mesmo tempo. Um conceito que só funcionaria com uma rede descentralizada. Eu sei que todo mundo ouve muito isso, mas muita gente ainda não entende exatamente o que esse troço significa.

    Blockchain, NFT e a Web 3

    E só dá pra entender isso entendendo também as tecnologias da tal Web 3. Ela tem como tema central esses termos que a gente vem ouvindo falar muito nos últimos anos, principalmente blockchain e NFT. Pra quem ainda não entende exatamente o que esses dois trecos são, tem um episódio do CNN Business que eu gravei com o Fernando Nakagawa bem legal que explica isso de um jeito visual super didático.

    Resumidamente, a gente mostra que na internet, o blockchain é como se fosse um grande cartório, que vai validar todas as operações (como operações financeiras de criptoativos, mas que, em teoria, poderia ser usado pra qualquer operação de grana). Essa aprovação acontece por validadores espalhados pelo mundo todo. São meio que os tabeliões digitais que vão receber uma única pecinha de um grande quebra cabeça, que é uma operação financeira, por exemplo. Ela sai da origem como uma ordem e, imediatamente, se divide em inúmeros pedacinhos. Cada pedacinho vai pra um validador que dá o ok e manda esse pedacinho seguir, validando só essa parte da operação. Na outra ponta, todos os pedacinhos – agora aprovados pelos validadores – se juntam de novo e vão formar no destino, exatamente a mesma ordem que saiu da origem.

    Como essa ordem foi aprovada por inúmeros validadores, se um deles eventualmente quiser fraudar o processo, a maioria vai ter feito a validação certinha e garantido que a operação percorreu o caminho que deveria com as informações corretas. Já ouviu falar das tais fazendas de mineração de Criptoativos? Então, essas fazendas tão fazendo esse tipo de validação, entendeu?!

    E nesse grande cartório, o NFT é tipo aquele selinho que autentica a sua assinatura num documento. Ter o NFT de alguma coisa é como ter o comprovante de propriedade, e não só uma cópia. É a diferença entre um quadro com uma foto da Monalisa na parede da sua casa e a obra de verdade, que fica no museu do Louvre, em Paris. A de lá é o NFT, só aquela vale bilhões de dólares, ao contrário da cópia barata que você tem. Por mais que as duas aparentemente sejam iguaizinhas, só uma é original e, consequentemente, valorizadíssima. Inclusive, um dos alertas do relatório do Future Today Institute, é a queda tanto no mercado quanto no buzz a respeito do tema NFT, mesmo com o hype de 2021, lembra?! Por toda essa importância que eu expliquei, essas três letrinhas são um braço importante na discussão de Web 3.

    E o que vem pela frente?

    Dito tudo isso, bora pras tendências. A análise que a instituição faz sobre os dados que eles coletaram coloca no relatório desafios pro crescimento do blockchain que aparecem, principalmente, por causa da instabilidade do mercado de criptoativos.

    Eu chamo de criptoativos porque chamar de criptomoedas pode ser, na essência, um erro. Teoricamente, as criptos só poderiam ser consideradas moedas, se tivessem ligadas a um banco central. Não tô dizendo que sou contra ou a favor das criptos, só tô dizendo que, conceitualmente, são ativos tanto quanto um papel negociado na bolsa.

    Aliás, o valor das criptos é tão instável quanto os papéis das bolsas do mundo todo, o que deixa muita gente com o pé atrás.

    Como a tecnologia de blockchain nasceu com as criptos, a volatilidade delas prejudica a confiabilidade na tecnologia como um todo. O mercado, por um erro de entendimento sobre o assunto, associa necessariamente uma coisa à outra.

    Mas, segundo o relatório, quando esse conceito pegar tração de verdade, logo vão precisar surgir empresas que viabilizem com confiança o uso de blockchain pra transferência de propriedade de ativos e bens, só pra citar dois exemplos. Essa é uma tendência fortíssima pros próximos anos.

    O blockchain deve chegar com muita força também no gerenciamento de arquivos na nuvem, o que vai dar muito mais segurança pro trânsito de material nos servidores ao redor do mundo. Mas tem que ficar esperto porque o avanço de tudo isso pode (e provavelmente vai) trazer novas modalidades de ataques hacker.

    De um jeito bem pragmático, o relatório aponta em quanto tempo a Web 3 vai invadir alguns setores da economia. De agora até 4 anos, vai impactar de um jeito forte empresas do setores financeiro, games, mídias sociais e gestão de supply chain, que é a cadeia de suprimentos, gerir isso é garantir o funcionamento redondo do desenvolvimento de um produto, da compra da matéria-prima mais básica até a chegada dele no ponto de venda.

    De 5 a 9 anos a partir de agora, a Web3 deve chegar intensamente nas relações com os consumidores, nos setores imobiliários, de inteligência artificial e IoT. Daqui 10 até 14 anos pra frente, a Web3 deve chegar no setor de saúde e assistência médica.

    Desculpa o textão, eu sei que foi longo. É que eu acho toda essa contextualização extremamente necessária pra gente mostrar que esses temas, tão complexos pra muita gente, se já não fazem parte do nosso dia a dia, vão fazer parte muito em breve. E eventos como o SXSW só servem pra gente se preparar melhor pra tudo isso.

    Veja imagens do SXSW 2024