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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Comunicador, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019. Empreendedor serial, fundador da Albuquerque Content e da Intrend.AI

    Mais uma vez a Apple fala com os consumidores nas entrelinhas

    Último evento da empresa trouxe uma capacidade monstruosa de processamento dos novos iPads, o que aponta um possível futuro sistema de IA proprietário da marca

    Essa semana teve evento da Apple pra anunciar iPads novos e foi aquela coisa que a gente já imagina sempre, né… aparelhos com chips ainda mais rápidos, telas com mais definição, uma tecnologia absurda e uma informação que deixou a galera que manja do assunto naquele pensamento de “mmm… tem alguma coisa ainda maior pra acontecer em breve”.

    O novo processador do iPad Pro chama M4, e ele consegue fazer, simplesmente, 38 TRILHÕESSSS de operações POR SEGUNDO! Isso é infinitamente mais do que o usuário comum precisa hoje em condições normais de temperatura e pressão, mesmo que seja um profissional. E é aí que tá a cereja desse bolo de maçã.

    Por isso que foi o novo iPad ser anunciado pra começar o zumzumzum nos grupos de especialistas. A expectativa é que essa quantidade absurda de processamento seja uma preparação do que pode ser anunciado em breve pela Apple: o sistema próprio de inteligência artificial que, com máquinas tão rápidas nas mãos dos clientes, poderia funcionar mesmo sem internet.

    E essa é a grande sacada. Hoje, teoricamente, muitas máquinas conseguem trabalhar faz tempo com sites e softwares de IA pra produzir textos, áudios e até vídeos em altíssima definição, mas a internet é quase sempre uma exigência. A informação vai e volta o tempo todo da nuvem.

    Imagina o seguinte: você é um marceneiro e sai de casa todo dia pra ir trabalhar na sua oficina. Por causa do trânsito, você perde (literalmente) 1 hora pra ir e mais 1 hora pra voltar… são 2 horas de vida no lixo por dia. Você precisa ir porque todos os equipamentos pra construir as peças encomendadas tão lá. É tudo muito grande, especializado e profissional.

    Agora troque o marceneiro por um computador comum e troque a oficina de marcenaria pelas nuvens das Big Techs (grandes empresas de tecnologia) que ficam o tempo todo mandando e recebendo ordens pra executar tarefas e gerar conteúdos em inteligência artificial.

    Essas 38 trilhões de operações que o novo chip da Apple consegue fazer seriam mais que suficientes pra dar conta de montar a marcenaria dentro de casa e poupar essas duas horas de trânsito, ou seja, daria pra pedir uma tarefa pra IA e ela executar só com o que tem dentro dela, sem ir e voltar de nuvem nenhuma.

    Assim como fugir do trânsito dá mais tempo de vida pro trabalhador, não depender da nuvem pra executar operações agiliza infinitamente mais o funcionamento de uma máquina, principalmente pra uso profissional.

    E esse anúncio é necessariamente uma graaaaande novidade? Nem tanto, outras empresas já anunciaram tecnologias meio que parecidas ou que querem chegar no mesmo lugar.

    A diferença é que a Apple tem o benefício do líder. No começo desse ano, eles, pela primeira vez, passaram a Samsung em número de vendas e viraram líderes globais, mesmo sem ter celulares com preço popular como os concorrentes.

    E poder esperar é justamente esse benefício. Toda vez que uma empresa lança primeiro uma tecnologia ela tá sujeita a muitos bugs, falhas e problemas justamente porque esse sistema ainda não foi tão testado em massa. A Apple tá pro mercado de tecnologia como a Toyota tá pro mercado automobilístico.

    O Corolla foi um dos últimos carros a sair da fábrica com uma tela multifuncional no painel. As primeiras levas desses kits multimídia eram péssimas, com sistemas lentos, tela sensível ao toque pouco funcional e por aí vai.

    Enquanto a concorrência anunciava essas tecnologias como grandes diferenciais competitivos, o consumidor, em muitos casos, se frustrava porque na hora de usar a experiência não era boa. E isso queimou a imagem de várias montadoras com muitos compradores.

    Quando as multimídias evoluíram, e o mercado conseguiu entender qual era a melhor e mais testada, a Toyota, enfim, escolheu a que queria e passou a oferecer nos carros.

    O que a Apple faz é muito parecido: “Deixa todo mundo anunciar os próprios sistemas que o mercado vai selecionar os melhores. Eu aprendo com os erros dos outros e desenvolvo a minha própria IA com muito menos chance de errar.”

    Numa sociedade que nem consegue mais calcular quantos modelos de inteligência artificial já existem no mundo, isso tem um risco: ser entendido pelo consumidor como uma empresa que talvez já não inove tanto porque zela pela diminuição dos riscos, das possibilidades de erro.

    Em hipótese alguma, isso significa que a Apple não seja uma empresa inovadora. Claro que não. O Vision Pro tá aí pra, mais uma vez, possivelmente mudar o jeito que a gente se relaciona com a tecnologia. Mas que tem bastante cautela ali, tem.

    E mais… a Apple já inovou tanto num passado recente que tem muita lenha pra queimar. Isso porque ela se transformou em algo muito maior do que só uma marca que vende soluções. Quem compra um produto da Apple compra um objeto de desejo, e isso faz com que ela possa olhar mais o mercado e se afobar menos nos lançamentos.

    A Samsung já se antecipou no tema IA e vem tendo resultados incríveis. Aí eu te pergunto: quem tá mais certa? A maçã ou todo o resto do pomar? Aí, amigo, nenhuma inteligência artificial consegue responder com certeza. A única plataforma confiável capaz de mostrar isso é uma bem antiga, e ela chama “tempo“.

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