Como é uma sessão exclusiva com um executivo da Apple dentro da sede da empresa
A conversa de meia hora falou sobre o novo padrão de segurança e privacidade que a Apple quer estabelecer no mercado de inteligência artificial
Você que tá lendo deve ter visto que essa semana começou bem quente pra quem curte tecnologia, com o anúncio da inteligência artificial da Apple.
Esse novo cérebro digital chama Apple Intelligence e promete mudar bastante o jeito que a gente usa os equipamentos deles. Todos os anos, as novidades são mostradas nessa mesma época e esse encontro chama WWDC, abreviação de Worldwide Developers Conference.
É que, oficialmente, é um encontro pra apresentar as novidades pros desenvolvedores parceiros do mundo todo criarem novos softwares e inovações a partir das novidades oficiais. Dessa vez eu fui um dos quatro brasileiros convidados pela Apple pra acompanhar o evento de dentro do Apple Park, a lendária casa da Apple no Vale do Silício, que foi inaugurada lá na Califórnia em 2017.
A nova IA da Apple faz muita coisa massa, ainda mais porque eles anunciaram também uma parceria grande com o ChatGPT, da OpenAI, a empresa que lançou a primeira plataforma de inteligência artificial generativa mais abrangente (que cria textos e conteúdos a partir de comandos digitados de maneira simples).
Mas o que eu quero falar nesse texto agora é sobre um papo bem interessante que eu tive dentro da empresa que, com os anúncios recentes, virou de novo a mais valiosa do mundo. No dia seguinte da WWDC, o nosso grupo pequenininho de brasileiros foi convidado pra voltar pro Apple Park e entrar no prédio principal da empresa, que é basicamente uma estrutura circular gigante, que, pra dar a volta a pé pela parte de fora, você percorre 2 km. Como tinham-se passado mais de 24 horas do evento, o clima já era de um dia útil comum por ali.
A gente ficou uns 10 minutinhos esperando num hall extremamente claro e muito ventilado, bem arborizado e, lógico, muito minimalista, com um dos tetos mais altos que eu já vi no mundo corporativo. Logo chamaram a gente pra entrar numa sala com uma mesa enorme de madeira num tom clarinho, muito parecida com as mesas de mostruário das lojas da Apple. Eu tô descrevendo o espaço em detalhes porque ali era terminantemente proibido gravar ou tirar foto.
Sentado numa das cadeiras do lado oposto ao nosso tava um executivo da Apple da área de Segurança e Privacidade, justamente o assunto da nossa sessão privada pelos próximos 30 minutos. Ele se apresentou de um jeito tão elegante quanto simpático (como quase todo mundo na empresa), mas o pedido foi pra que tudo que fosse discutido naquela sala ficasse atribuído à Apple ou a “um executivo da Apple”.
Tudo o que era dito pelo executivo fazia parte de uma apresentação em slides animados que ele tava espelhando num telão que ocupava um pedaço enorme da parede que tava do nosso lado direito. A cada página de informações, ele reforçava uma proposta bem ousada da empresa… a de estabelecer um novo padrão em segurança e privacidade no uso de softwares baseados em (ou apoiados por) IA.
E como eles querem fazer isso? Tudo faz parte de um ecossistema que a Apple batizou de Private Cloud Computing. A maior parte do processamento dos recursos mais recentes e da nova inteligência artificial da Apple vai rodar localmente. Isso significa que tudo que puder ser feito diretamente no aparelho do usuário vai ser feito assim. E isso pode ser mais seguro porque as informações e os dados do dono do aparelho ficam só com ele… pelo menos essa foi a promessa.
Mas quando o usuário pede pra IA da Apple alguma coisa tipo a criação de um texto sobre um assunto mais específico, o ChatGPT levanta a mão e sugere entrar em cena pra ajudar. Nesse caso, a tecnologia da OpenAI entra no processo, mas, segundo o executivo da Apple com quem a gente conversou, por contrato, a dona do ChatGPT não pode armazenar absolutamente nenhuma informação do usuário que tá fazendo a solicitação de geração daquele conteúdo.
Se você já ouviu falar sobre o conceito de Cloud Computing, mas não sabe direito como funciona, deixa eu tentar explicar. Muitas empresas têm servidores, que são lugares físicos mesmo, normalmente prédios, onde fica uma infinidade de computadores que, juntos, reúnem uma capacidade enorme, por exemplo, de armazenamento de arquivos e tratamento desses dados naquela estrutura.
Essa possibilidade é oferecida pros usuários terem proveito dessa tecnologia pela internet, mesmo à distância. Como os sistemas de inteligência artificial generativa lidam com um volume MUITO grande de informações pra criar os conteúdos, não tem nem como manter todos esses dados no computador de cada usuário. Aí, vem a troca de informações entre computador local e servidores.
Mesmo nas tarefas locais, vai ter momentos em que o sistema operacional do iPhone, por exemplo, vai precisar fazer uma visita na nuvem da Apple pra tratar alguma informação do usuário. O que o executivo da empresa garantiu com muita ênfase pra gente, é que, nesses casos, o dado do usuário vai até a nuvem, volta pro aparelho sem deixar nada pra trás. Sim, a Apple prometeu oficialmente que, com esse novo procedimento, não vai ficar com acesso a nenhuma informação sensível dos usuários. E, caso algum dado fique por engano na nuvem, essa informação é toda criptografada, quer dizer, fica codificada num tipo de idioma digital que nem a própria Apple conseguiria traduzir e ter acesso de um jeito “legível”, pelas palavras do executivo.
Um ponto interessante que o executivo da Apple também levantou com a gente é a possibilidade de o sistema ser “auditável” por especialistas do mundo todo que pedirem acesso. A Apple topou abrir pra esses profissionais os parâmetros do Private Cloud Computing que, segundo a empresa, vão mostrar o caráter realmente privado do sistema. A versão oficial desse modelo de segurança deve começar a rodar em setembro, junto com o Apple Intelligence, provavelmente com o lançamento do novo iPhone, que sempre rola nessa época do ano.
Agora é esperar pra ver tudo isso funcionando na prática e saber como o mercado vai enxergar todas essas mudanças. A Apple tá sendo a última Big Tech a entrar no mercado de IA generativa. Esperar a melhor opção possível pra depois tomar uma decisão de mercado é bem natural pra quem é tão grande e quer errar menos nos movimentos que faz. O que resta saber agora é se essa entrada de cabeça nesse universo realmente vai mudar o jogo pra toda a indústria.
Veja fotos dos lançamentos do WWDC 2024
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