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    Phelipe Siani
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    Phelipe Siani

    Empreendedor, palestrante e âncora na CNN Brasil desde 2019

    Começou como depositório de dancinhas. Virou treta sobre segurança nacional!

    Como o chinês TikTok supostamente ameaça os Estados Unidos, e por que o possível banimento do app por lá pode ditar o futuro das legislações de IA no mundo

    (* com uma ajudinha do ChatGPT)

    Até agora pode tá meio difícil pra muita gente entender exatamente por que os Estados Unidos não querem o TikTok por lá do jeito que ele é hoje. Tá, eu sei que os motivos tão sendo falados exaustivamente nos jornais, mas, se pensar bem, a gente tá observando de longe uma bateção de pé que, por enquanto, só tá se baseando em achismos.

    Essa é uma treta que começou a ganhar força em 2020, quando o ex-presidente Donald Trump chegou a tentar o banimento do app por lá. Ele não conseguiu, mas transformou essa discussão num tópico bastante vivo nas rodas de conversa dos políticos.

    Tanto que agora o negócio escalou muito, e o TikTok tem agora, no máximo, 12 meses pra encontrar um comprador americano da operação nos Estados Unidos ou vai deixar de ser oferecido pelas lojas de apps dos celulares. O que, na prática, faz o app desaparecer.

    Eu até chequei algumas informações com ajuda da Mariana Janjácomo, que é correspondente da CNN lá em Nova York, e tá acompanhando essa história muito de perto. Ela me disse que esse projeto passou no Congresso americano como uma medida bipartidária, quer dizer, tem apoio dos dois grandes partidos da política americana, o Partido Democrata e o Partido Republicano.

    Trazendo pra realidade brasileira, é como se esquerda e direita se juntassem numa mesma causa. Pois é, isso é bastante raro e mostra o quanto esse é um assunto que incomoda a política de maneira geral por lá.

    A justificativa tem algumas camadas. A primeira delas, segundo o governo americano, é sobre uma possível falta de segurança das informações de usuários. O governo americano tá visivelmente incomodado com uma eventual possibilidade do governo chinês usar esses dados, por exemplo, pra entender melhor o padrão de consumo e de comportamento dos americanos e usar isso a favor deles.

    Metade da população total dos Estados Unidos tá no TikTok. Mas os representantes do app já disseram oficialmente que não compartilham e nem nunca vão compartilhar dados de perfis americanos com o governo da China.

    Pode parecer uma bobeira, mas, hoje, quem domina esse tipo de informação, pode dominar qualquer mercado, indicando e induzindo a compra de produtos que vão atender a demanda de um grupo de consumidores, mas que, de uma certa forma, possa divulgar os interesses de quem vende… nesse caso, os interesses de empresas chinesas, que tem uma relação bastante próxima com o governo de lá.

    Por lei, a ByteDance, a empresa chinesa que é dona do TikTok, precisa ter a aprovação do governo chinês pra vender o que, por lá, eles chamam de tecnologias avançadas.

    Essa suposta estratégia é o que os especialistas em relações internacionais chamam de “soft power”, uma maneira de divulgar a própria cultura e/ou ter bastante poder sobre os inimigos sem usar armas ou partir pra guerra tradicional. Pensando por todos esses lados, realmente essa tentativa de proibição pode fazer algum sentido.

    A questão é que, até agora, essa é uma batalha de teses. “Talvez isso possa acontecer”; “quem sabe esse é realmente um risco”; “possivelmente a China tá usando os dados de americanos”… não tem absolutamente nenhuma prova de que isso aconteceu, acontece ou pode acontecer. Por enquanto, por parte de quem acusa, ainda é tudo uma questão de “eu acho que”.

    O governo de Pequim já disse pra todo mundo ouvir que é totalmente contra a venda da operação do TikTok nos Estados Unidos pra uma empresa americana. Até mesmo porque existe a preocupação de que isso possa gerar um possível efeito dominó global. A partir desse banimento, quem garante que outros países também não queiram fazer a mesma coisa usando os mesmos pretextos?

    Mesmo dentro dos Estados Unidos, tem vários especialistas que já se posicionaram contra o banimento. Eles dizem que a justificativa dos políticos é meio furada, porque os dados dos americanos podem vazar de várias outras maneiras, até menos ortodoxas do que por meio de um app que tem uma empresa gigante por trás.

    E o TikTok tá mostrando uma boa vontade relativamente grande em colaborar de algum jeito. Em 2022, por exemplo, eles tiveram uma iniciativa que chamaram de Projeto Texas. Foi uma tentativa de cuidar dos dados dos usuários americanos em servidores da Oracle, que é uma empresa dos Estados Unidos, ou seja, eles gastaram US$ 1,5 bilhão nessa brincadeira pra deixar os dados de americanos em solo americano. Mas nem isso acalmou o governo, que seguiu com essa história de banir a plataforma.

    Uma coisa eu posso te garantir… os motivos dos Estados Unidos vão muito além de só o medo de espionagem. Inclusive eu já escrevi sobre a guerra fria que tá rolando entre Estados Unidos e China no que diz respeito ao registro de novas patentes de inteligência artificial, ou seja, o registro de propriedade de novas ideias nesse setor, que dominou as discussões de tecnologia no mundo.

    A China tem planos públicos de virar a líder mundial em IA até 2030. Pelo menos em patentes, ela já é líder faz tempo, tá a frente dos Estados Unidos há mais de 10 anos. Em 2023, de cada 10 novas patentes de IA registradas no mundo, 6 foram feitas na China.

    Agora, o mais irônico, e o que pouca gente tem falado, é que essa história é o bumerangue voltando na cara da China. Porque as americanas Google, Meta e X, por exemplo, há muitos e muitos anos enfrentam enormes e variadas dificuldades de conviver num mercado chinês cheio de sanções. E o pior é que as justificativas do governo da China são parecidas, dúvidas sobre o tratamento dos dados dos usuários e tipo de conteúdo que rola nessas redes, o que pode afetar a segurança nacional.

    Ironicamente, é a história do bicho peçonhento que prova do próprio veneno. Pro TikTok, o relógio tá correndo. Ainda tem muita água pra passar por baixo dessa ponte e ficar esperto nessa discussão é ficar esperto no futuro das legislações de inteligência artificial no mundo. Deu pra entender o tamanho e a importância dessa treta? E pensar que muita gente ainda achando que TikTok é só dancinha.

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