Possibilidade de prisão levou Bolsonaro a topar ato, diz Malafaia
Fortalecido com o ato, pastor projeta gravar vídeos para 20 a 30 candidatos a prefeito


“Eu disse pra ele: você quer ser preso em Mambucaba isolado, chorando, ou você quer ser preso com apoio popular?”.
Duro, direto e sincero, o pastor Silas Malafaia se tornou um dos articuladores políticos mais importantes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) depois de uma série de ações da Polícia Federal com aval do Supremo Tribunal Federal (STF) nos últimos meses.
A frase dita pelo presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo ao ex-presidente da República foi um dos argumentos centrais para convencê-lo a topar um ato popular e reaglutinar a base aliada de direita na Avenida Paulista, em São Paulo.
A um custo que superou R$ 80 mil, Malafaia bancou do próprio bolso o aluguel do trio Demolidor e a contratação de mais de 40 seguranças. Foram distribuídas pulseiras das cores verde e amarela para o acesso do trio principal, onde subiram Bolsonaro, senadores e governadores, e para o trio de apoio.
No Congresso Nacional, a incumbência coube ao deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que trabalhava como promotor de eventos para Malafaia.
Com quatro câmeras e um drone, a manifestação foi reproduzida amplamente nas redes sociais. Políticos de diversas patentes da direita fizeram publicações de apoio a Bolsonaro.
“Eu não sou bolsonarista, sou amigo de Bolsonaro e compartilho as convicções dele”, disse o pastor à CNN depois de fechar uma ala de uma pizzaria próxima à Avenida Paulista para reunir os maiores expoentes do bolsonarismo hoje, como deputados, senadores e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Vinte anos depois de se apresentar como aliado de primeira hora do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pra quem foi inclusive chamado para integrar à época, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, Malafaia agora se apresenta em nova versão, disposto a ser cabo eleitoral de nomes da direita.
Na última eleição, ele contou ter apoiado 22 candidatos a prefeito, dos quais, segundo ele, 18 saíram vitoriosos em cidades como Vitória da Conquista e Feira de Santana, na Bahia, e São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Rio de Janeiro.
Desta vez, a estimativa é declarar apoio e gravar vídeos para 20 ou 30 candidatos. “Não vou botar minha cara para 50 a 60, porque não sei o que eles farão.” E afirma: “Eu fui levantado para influenciar. Quando você pertence a um partido político, você representa parte da sociedade. Eu represento o todo. Não serei candidato a nada.”
Na pizzaria, Malafaia e os aliados comemoraram a ausência de faixas criticando o STF ou os próprios ministros e também o fato de o evento ter transcorrido sem incidentes.
A PM de São Paulo, que havia parado de fazer contagem de público em eventos pelas divergências nos números, tinha avisado que não somaria os presentes no ato. Por volta das 19h deste domingo (25), no entanto, eles voltaram atrás e resolveram divulgar uma estimativa: 750 mil pessoas, somando a Avenida Paulista e as ruas do entorno.
Entre eles os presentes no ato, estava o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), de comportamento significativamente diferente dos demais presentes. Nunes hesitou a ir para o ato, foi convencido pelo governador Tarcísio de Freitas, mas ainda assim, decidiu não discursar.
A chegada ao trio foi turbulenta, com empurra-empurra e dificuldades para subir. Nunes não só não discursou, como também não postou fotos com Jair Bolsonaro, com quem havia encontrado horas antes de subir no palanque, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Imagens mostram o encontro dos dois. Em vez do abraço, tapinha no ombro.
Na conta de Instagram de Nunes, nenhum registro de Bolsonaro ou dele no trio. Em vez disso, fotos com Tarcísio, com o senador Astronauta Marcos Pontes (PL) e com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Uma feira de adoção de cães teve mais destaque que o ato na principal rede social do prefeito.
Para o futuro, incerteza. Malafaia disse à CNN que não há qualquer previsão de outra manifestação ou ato público com a presença de Jair Bolsonaro.