Médica recebe presentes misteriosos de admirador: stalking ou criatividade?
Chaveiros, biscoitos, uma rosa, um squeeze e a revelação de quem era o admirador secreto; advogados debatem limites da lei e relação com o caso


A dermatologista Pollyana Lima foi surpreendida nos últimos dias com algo inusitado: eventualmente, ao chegar na garagem do prédio onde mora, se deparava com uma sacola ou um objeto preso à maçaneta da porta do carro. Eram presentes deixados por um admirador sobre o qual ela não fazia a menor ideia de quem poderia ser.
Pollyana tentou descobrir, perguntou ao porteiro do prédio, mas não conseguiu ter resposta. Até que na semana passada, em vez de um presente, veio um cartão. Com um texto curto e a mensagem “preparada para conhecer seu futuro amor?”, Pollyana enfim descobriu quem era o admirador secreto e o telefone dele.
“Saudades do que a gente não viveu”, completava a mensagem.
Os presentes começaram com chaveiros e foram evoluindo para bolachas, uma rosa, um squeeze (garrafa). A médica recebeu bem a abordagem e decidiu interagir com o homem – que não terá a identidade revelada aqui.
À CNN, ela explicou o que sentiu quando começou a receber os presentes.
“Eu sempre me senti muito segura aqui no meu prédio. E mesmo sendo aqui no meu prédio, eu achava como era muita coisa inofensiva. Eu achava que era uma brincadeira mesmo, talvez uma criança, não sei, talvez alguém que trabalhasse no prédio, que tivesse com vergonha de se declarar pra não se comprometer no trabalho, sei lá. E aí eu fui deixando rolar seguindo a minha vida”, contou ela.
“Na semana passada eu fui perguntar pro porteiro. E aí foi que eu comecei a ter acesso a algumas informações. Eu fiquei super tranquila mesmo, entendeu? E a conversa no WhatsApp sempre fluiu muito, muito bem, é muito tranquilo mesmo”, completou.
O caso viralizou nas redes sociais e trouxe à tona o debate sobre os limites de abordagens como essa.
“Gente, antigamente era assim. Aí o mundo desandou e hoje temos medo de absolutamente tudo”, comentou uma mulher em uma das páginas que republicou o vídeo.
“Do jeito que eu sou cismada, teria jogado tudo fora, o biscoito então não teria nem encostado”, disse outra.

“Deus me livre de pessoas me observando”, acrescentou outra mulher. Internautas ainda compararam a história às famosas séries da Netflix “You” e “Bebê Rena”.
Mas, afinal de contas, qual o limite para esse tipo de abordagem? Uma situação como essa poderia render um boletim de ocorrência por assédio, uma ação por stalking ou até mesmo se enquadrar em um crime?
A CNN consultou especialistas no tema para responder essas questões.
Na opinião do especialista em Direito Penal Rafael Campbell a interpretação depende da potencial vítima.
“Ela tem a escolha de representar ou não. Se essa pessoa seria condenada ou não é outra história. Mas, em tese, se enquadraria no crime, embora essa questão de ameaça e violência psicológica seja muito complicada”, diz.
O crime de perseguição, ou “stalking”, entrou no código penal em 2021, substituindo a contravenção penal de perturbação de tranquilidade. Os casos só vão adiante se a vítima desejar fazer uma representação.