Comando da PM vê 7 erros em vídeo gravado com youtuber
Policiais ouvidos pela CNN se mostraram surpresos com as imagens divulgadas em canal de influenciador americano


Integrantes do comando da Polícia Militar (PM) de São Paulo apontaram à CNN sete erros identificados no processo de elaboração e no resultado do vídeo gravado com o influenciador americano Gen Kimura.
As gravações filmadas com policiais de um batalhão da zona Norte da capital paulista se transformaram em um vídeo de 40 minutos. Kimura e um cinegrafista aparecem em uma viatura da Força Tática, em áreas internas do batalhão e acompanhando PMs em ocorrências em uma comunidade.
A CNN ouviu policiais militares que acompanham o processo que já culminou no afastamento de cinco PMs envolvidos nas gravações. Eles esclareceram sobre os equívocos já identificados no vídeo, que causou surpresa e indignação da cúpula da PM paulista.
Segundo eles, o primeiro erro foi a análise rasa sobre as características do canal e do objetivo da gravação. Incomodou o fato de Kimura aparecer sorrindo no vídeo, mesmo em situações de tensão da rotina policial.
O canal tem, segundo policiais, um “ar sensacionalista” e “superficial”. São 385 mil inscritos, mas o vídeo da PM paulista já bateu 1,7 milhão de visualizações.
O comando da PM ainda identificou o descumprimento do protocolo estabelecido para esse tipo de gravação. Isso acontece, por exemplo, em momentos onde pessoas abordadas e eventuais testemunhas são expostas, assim como na exibição de equipamentos usados pela polícia, o que pode oferecer risco à segurança do batalhão.
O contato com armas também é vedado de acordo com o protocolo. As imagens, no entanto, mostram armas, granadas, escudos, áreas internas do batalhão e computadores usados pela PM.
Outro problema chamou atenção da corporação: a entrada de Kimura e seu cinegrafista em um local que seria o cativeiro de um sequestro, invadindo a cena de um crime que deveria ser preservada até a realização da perícia.
Na conduta dos PMs, ainda foi identificada uma série de problemas em abordagens, classificadas pelo comando da corporação como “inadequadas”. A polícia busca difundir a ideia de que tem um tratamento técnico, respeitoso e digno ao cidadão, o que não foi constatado no resultado do vídeo.
Justamente o resultado é o sétimo erro apontado pela corporação. Há uma regra que estabelece que, quando jornalistas, por exemplo, acompanham e registram operações policiais, a PM faz uma revisão do material finalizado.
Apesar de ser uma prática incomum em veículos jornalísticos, o argumento da corporação é a proteção da privacidade dos civis gravados, a segurança dos policiais registrados e a Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD.
Ao comunicar o afastamento de cinco policiais militares envolvidos nas gravações, a Secretaria de Segurança Pública reforçou que “imediatamente instaurou uma sindicância para apurar todas as circunstâncias relativas aos fatos e adotar as providências necessárias” e que “as polícias paulistas são instruídas e continuamente capacitadas para agirem dentro da lei”.
A leitura do comando da PM é que as imagens registradas e editadas pelo youtuber americano sabotam um plano de melhorar a comunicação da corporação e vão na contramão da tese de que a PM trabalha de forma técnica e responsável, tendo considerado o comportamento dos agentes como “exceção”.