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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Análise: Quem disse que o Brasil não está em guerra?

    Médica da Marinha perde a vida numa guerra que não escolheu disputar

    As balas cravejadas nas colunas do Hospital Marcílio Dias revelam uma realidade perversa. A Marinha Brasileira amanheceu nesta quarta-feira (11) em luto por ter se despedido de uma das suas mais promissoras profissionais. Mulher, mãe, esposa e “Capitão do Mar”, Gisele Mendes de Souza e Mello deixa quase três décadas à serviço da pátria para virar mais uma estatística do assombroso cenário de guerra que acabou se tornando uma das mais lindas cidades do Brasil.

    Encrustado no Complexo de Lins, onde o Comando Vermelho se armou com fuzis de guerra vendendo iogurte, carne e produtos roubados de caminhões, o hospital da Marinha virou o centro de uma guerra num país que se diz pacífico e pacifista.

    Não é exclusividade dos militares. Os civis também morrem todos os dias vítimas de acidentes do destino. Mas será que são acidentes mesmo? Será que a gente não está enxugando o gelo?

    Para a família da doutora Gisele – ou comandante Giselle – devem ser oferecidas as honrarias fúnebres, disseram fontes da Marinha. Tiros de festim, escolta especial, pavilhão nacional sobre o caixão…

    Mas bandeira nenhuma é capaz de esconder a verdade que a morte revela. Sim, estamos em Guerra. E nem o mais astuto dos Almirantes, Generais ou Brigadeiros seria capaz de sugerir quando essa guerra vai acabar.

    É que a guerra brasileira não é uma briga entre nações, embora tenha muitas semelhanças com essas guerras internacionais que a gente assiste pela televisão. Aqui, a luta também é por território – e cada metro vale muito.

    O tráfico tem usado armas de guerra, roupa de guerra, veículos de guerra… Eles usam estratégias de dominação de território… de guerra! E inocentes morrem todos os dias, exatamente como nas guerras.

    É impressionante olhar o que diziam sobre a médica morta em pleno expediente, trabalhando dentro de um hospital. Dentro de um hospital!

    “Foram plantões e mais plantões sem nunca ter sido abalada pelo cansaço”, disse uma pessoa. “Excelente esposa, mãe, amiga, médica, oficial e diretora, doutora Gisele estava sempre disposta a ajudar. Pessoa doce, daquelas poucas que se confia”, disse outra.

    “Operações no horário de entrada, tiros na madrugada, impedidos de entrar e sair por confrontos na comunidade, essa é nossa rotina diária”, comentou outro médico que trabalhou com Gisele.

    E antes que alguém questione a comoção, alegando que ela era branca ou militar, portanto, privilegiada, vale lembrar: Gisele deixa a família e a história pra virar uma lembrança – ou um dado, um pedaço de papel, uma estatística criminal, como tantas e tantas outras que a gente só assiste aumentar.

    A Marinha foi a primeira das três Forças a abrir espaço para mulheres, na década de 1980. Gisele Mendes de Souza e Melo, me contaram oficiais superiores, tinha tudo, absolutamente tudo para ser a quarta mulher a ocupar o posto de Almirante, o mais alto na hierarquia da força militar dos mares. Mas, em vez de promovida, a Capitão do Mar e Guerra acabou morta, durante o expediente, dentro de um hospital, numa guerra que ela nunca escolheu participar.

    Questionamos o Secretário de Polícia Civil e o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro sobre o caso, os convidamos para darem entrevistas aqui e falar das investigações. A essa altura, a principal resposta que verdadeiramente todo mundo quer é: afinal de contas, quando essa guerra vai acabar?

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