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    Pedro Duran
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    Pedro Duran

    O pai do Benjamin passou pela TV Globo, CBN e UOL. Na CNN, já atuou em SP, Rio e Brasília e conta histórias das cidades e de quem vive nelas

    Narrativa de “guerreiro sobrevivente” pode mudar eleição nos EUA, apontam especialistas

    Especialistas ouvidos pela CNN apontam que atentado pode ajudar a mobilizar a base trumpista e levar republicanos às urnas

    Para além dos votos de eleitores centristas e moderados e da escolha por Biden ou Trump, a eleição nos Estados Unidos tem um fator que pode ser decisivo: a mobilização das pessoas.

    Para analistas que acompanham a política internacional ouvidos pela CNN, é justamente neste ponto que Trump pode se favorecer depois do trágico atentado que quase levou sua vida durante um ato de campanha.

    Há ainda a percepção de que nasce uma nova narrativa, a de um “guerreiro sobrevivente”, e isso pode mudar o jogo político americano.

    Com essa narrativa, o esperado é que o país assista a uma trégua ao ex-presidente Donald Trump, que vinha sendo duramente atacado pelos democratas.

    Para o professor de Relações Internacionais da FGV/Eaesp, Guilherme Casarões, o atentado produz dois efeitos principais.

    “Em primeiro lugar, consolida, entre apoiadores de Trump, a narrativa de herói e vítima ao mesmo tempo. Já circulam nas redes teorias da conspiração de que o atentado seria uma tentativa do ‘deep state’ de eliminá-lo, percebendo a impossibilidade de vitória de Biden. Isso cristaliza e radicaliza a base trumpista”, diz ele.

    O segundo efeito seria derivado desse primeiro, o que ele prevê como uma “mobilização dos eleitores”.

    “Como o voto nos EUA não é obrigatório, um dos grandes desafios das candidaturas é levar os eleitores às urnas. É possível que o atentado possua esse poder de aumentar os votos em Trump, o que é crucial nos estados incertos [swing states]”, completa o professor.

    A proximidade entre o atentado no último sábado (13) e o início da convenção republicana nesta segunda (15) também provoca efeitos práticos.

    Para o professor em direito internacional da UFMG, Lucas Lima, Trump – cujo discurso está previsto para quinta-feira (18/7) – chega ao evento fortalecido.

    “Nos grupos republicanos ele tem sido comumente descrito como um presidente ‘guerreiro’ e ‘sobrevivente’. Isso altera um pouco a narrativa que se tinha sobre o candidato. Se a campanha estava focada nas capacidades do Biden, nesse momento o foco se reconcentra em Trump e o coloca diametralmente em oposição ao seu adversário como líder do país”, aponta ele.

    Veja as principais datas das eleições nos Estados Unidos em 2024

    Lima também entende que deve haver uma diminuição do tom dos discursos contra Trump, com mais moderação na classificação do ex-presidente como “ameaça à democracia”, especialmente nas próximas semanas.

    “Por consequência, a campanha mais uma vez volta a ser sobre as capacidades dos candidatos e menos sobre as propostas que ambos possuem para a governabilidade dos EUA e para o mundo”, opina.

    E o marketing eleitoral? Também muda?

    Para Felipe Soutello, especialista no assunto, a resposta é: sim. Ele prevê mais agressividade nas redes apesar da trégua dos democratas.

    “A comoção que o caso gera e a correta solidariedade ao ex-presidente serão travas. O uso político que cada um terá ainda não está absolutamente definido. Mas a postura de aguerrimento de Trump e as imagens impactantes captadas por diversos ângulos e olhares são um combustível poderoso aos Republicanos. A situação vai gerar um rastro enorme de impactos nas democracias ao longo do mundo”, defende Soutello.

    O professor Carlos Gustavo Poggio, do Berea College, lembra da quantidade de armas que estão nas mãos das pessoas nos EUA e relaciona o fato com a escalada de violência, inclusive na política. Para ele, o ódio segue mobilizando o voto.

    “[Em 2016 funcionou muito politicamente] a instrumentalização do ódio enquanto o cabo eleitoral. O ódio é um grande instrumento de estímulo ao voto, principalmente num país em que o voto não é obrigatório”, sustenta Poggio.

    “[Há] dois caminhos possíveis: um caminho que é o caminho da conciliação, de buscar mudar um pouco o clima político, colocar panos quentes, baixar a poeira, mas há outro caminho, é o caminho de [o atentado] simplesmente reforçar diferenças de visões já existentes […] então imediatamente já é colocado na roda da polarização política no ambiente de muita desinformação”, completa.

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