Análise: A eleição não foi sobre Lula x Bolsonaro, com exceções
Eleição municipal de 2024 foi um referendo sobre as atuais gestões
Fechadas as urnas, vem a confirmação do que as pesquisas já mostraram: as eleições de 2024 não foram sobre a polarização refletida pela rivalidade entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Candidatos apoiados pelos dois líderes do país sofreram derrotas emblemáticas dos atuais prefeitos que tentavam a reeleição em capitais.
É o caso de Salvador e Recife. Na capital baiana, Bruno Reis (União Brasil), garantiu a reeleição contra o atual vice-governador do estado, Geraldo Júnior (MDB), que teve o apoio significativo do PT. Ele acabou ficando em terceiro lugar, sendo ultrapassado até pelo candidato do PSOL, Kleber Rosa.
Em Recife, a derrota foi de Bolsonaro, que tentou lançar o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, que não decolou nas pesquisas e foi derrotado pelo prefeito João Campos (PSB), que não explorou o apoio de Lula na campanha.
O apoio de Bolsonaro, no entanto, garantiu o gás para candidatos em cidades como Fortaleza e Goiânia. Na capital cearense, o deputado federal André Fernandes, do PL, subiu na reta final e vai para o segundo turno contra Evandro Leitão, do PT, escolhido por Lula. Fernandes bateu 40% e Leitão, 34%, numa reedição da polarização de 2022. Exceção que prova a regra.
Em Goiânia, Fred Rodrigues (PL), do grupo mais raiz do bolsonarismo, em candidatura patrocinada pelo deputado federal Gustavo Gayer, também PL, avançou na reta final, desbancando a candidata do PT, Adriana Accorsi, que não conseguiu ir ao 1º turno.
O PT não conseguiu eleger nenhum prefeito nas capitais e vai tentar o segundo turno em Fortaleza e na capital do Mato Grosso, Cuiabá, onde a eleição também vai ficar marcada pela polarização Lula x Bolsonaro, com Abílio (PL) e Lúdio (PT) no segundo turno.
Em cidades como Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, e Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, os candidatos de Lula não decolaram. No Mato Grosso do Sul, a deputada federal Camila Jara (PT) ficou em quarto lugar com menos de 10% dos votos. No estado, Lula fez 34% dos votos no 1º turno de 2022. Em BH, Lula bateu 46% dos votos no 1º turno de 2022, mas o candidato dele, o deputado federal Rogério Correia (PT), ficou em sexto lugar, com menos de 5% dos votos.
Dez capitais tiveram prefeitos reeleitos no 1º turno: Rio Branco (AC), Macapá (AP), Boa Vista (RR), Maceió (AL), Salvador (BA), São Luís (MA), Recife (PE), Vitória (ES), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC). Apenas dois são do PL de Bolsonaro, Tião Bocalom, de Rio Branco, e João Henrique Caldas, de Maceió. Bocalom aderiu ao PL neste ano e Caldas, em 2022.
Em Teresina, Silvio Mendes (União Brasil) também se elegeu no primeiro turno, desbancando o prefeito Dr. Pessoa.
A tese de que a eleição realmente não foi sobre Lula e Bolsonaro é a derrota de Duarte Júnior (PSB), que concorreu com o apoio do PL e do PT, mas foi derrotado pelo atual prefeito Eduardo Braide (PSD).