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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Com o fim do El Niño e a incerteza do La Niña, devemos nos preocupar com a dengue?

    Dados oficiais mostram que o atual momento climático pode elevar os casos de dengue

    O El Niño é um fenômeno climático que provoca mais chuvas na Região Sul e em parte da Região Sudeste, com tendência ao aumento de temperatura nessas duas regiões. Ao mesmo tempo, ele provoca redução das chuvas nas regiões Norte e Nordeste. O fenômeno La Niña provoca o efeito contrário, com redução das chuvas e da temperatura no Sul e em parte do Sudeste. Ele também leva a um aumento das chuvas nas regiões Norte e Nordeste.

    A dengue é uma doença cuja transmissão é favorecida pelo calor e pela umidade, condições que aceleram a reprodução do Aedes aegypti, seu principal vetor. Contrapondo dados oficiais de casos confirmados pelo SUS com dados sobre o El Niño — La Niña disponibilizados pela Administração de Oceanos e Atmosfera do governo americano (NOAA), verifica-se que a incidência da dengue é maior durante episódios de El Niño, conforme mostra a figura abaixo.

    Isso se explica pelo maior volume de chuvas na Região Sul e em parte da Região Sudeste, simultaneamente a uma elevação da temperatura. Umidade e calor criam as condições ideais para uma maior proliferação do Aedes aegypti.

    Dados oficiais mostram que o atual momento climático pode elevar os casos de dengue • Reprodução

    Na parte superior da figura, o gráfico mostra a alternância dos fenômenos El Niño e La Niña desde o início deste século a partir da variação da temperatura do Oceano Pacífico equatorial. Sem me estender em detalhes técnicos, em seus trechos vermelhos a linha indica a ocorrência do El Niño. Os trechos azuis indicam a ocorrência do La Niña. As porções em cinza indicam períodos de neutralidade, como este em que nos encontramos agora. A parte inferior do gráfico indica o número de casos confirmados de dengue, lembrando que eles são mais confiáveis a partir do final da primeira década deste século.

    Contrapondo ambos os gráficos, verifica-se que nos períodos de El Niño a incidência de casos de dengue é maior (barras rosas). Entretanto, em 2013, houve um aumento significativo de casos, durante um período de neutralidade climática, com uma leve tendência à manifestação de um La Niña (barra cinza). Essa foi uma situação similar à que ocorre agora.

    Embora a ocorrência do El Niño seja um importante alerta para o aumento do número de casos de dengue, fica claro que isso também pode ocorrer em períodos de neutralidade climática, embora não seja o mais usual.

    Alerta

    É importante que a administração pública de maneira geral reforce as campanhas de prevenção à dengue, por ser possível que se repita o que aconteceu em 2013, quando, em uma fase de neutralidade entre o El Niño e o La Niña, tivemos uma elevação do número de casos confirmados.

    Embora o Instituto Butantã tenha entrado com o pedido de registro de uma vacina contra a dengue, ela está em processo de análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e levará algum tempo até ser amplamente disponibilizada para a população. Por enquanto, a prevenção é a única alternativa para evitar novos surtos da doença.

    Nota: Os dados sobre os casos confirmados de dengue foram levantados pelos pesquisadores Claudio Maierovitch e Noely Fabiana Oliveira de Moura da Fiocruz e Maryly Weyll Sant’Anna da USP.

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