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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Por que negligenciaram a previsão de eventos extremos no sul do país?

    As previsões climáticas e meteorológicas apresentadas deixaram evidente a falta de atenção dos políticos

    As previsões climáticas (as quais são aquelas elaboradas para vários meses) indicavam que estaríamos sob os efeitos do El Niño desde meados do ano passado. Esse evento faz com que as chuvas no sul do país sejam mais intensas, o que ficou comprovado. Também é conhecido que os efeitos do El Niño (e também do La Niña) têm sido amplificados pelas mudanças climáticas.

    Resumidamente, os prognósticos climáticos indicavam um período de chuvas mais intensas enquanto o El Niño estivesse em ação e ele ainda não acabou. Por outro lado, a previsão meteorológica (curto prazo) indicava chuvas muito intensas entre o final de abril e o início de maio, o que efetivamente também acabou ocorrendo. Portanto, os alertas foram emitidos.

    Dizem que não é o momento de apontar os culpados, mas cabe perguntar — ainda que ingênuo pareça — o que o governo (federal, estadual e municipais) fez para, minimamente que seja, preparar o sul para as chuvas intensas prognosticadas?

    É certo que as chuvas foram excepcionais, mas eventos anteriores — ainda no ano passado — mostravam a vulnerabilidade do RS no enfrentamento de eventos climáticos extremos. Entre meados de 2020 e início de 2023, situação oposta se abateu sobre o estado, com uma estiagem muito intensa que, infelizmente, poderá se repetir com a chegada de um novo La Niña a partir da metade do ano.

    Muitos políticos se dizem preocupados e atentos às mudanças climáticas. Mas quando isso será traduzido em ações efetivas e políticas de prevenção? Por enquanto, continuamos apenas reagindo aos grandes eventos climáticos.

    Infelizmente, essa é uma realidade que se impõe não apenas ao Rio Grande do Sul. Extremos climáticos são verificados em diversos locais, no Brasil e no mundo. Para nós, a crise climática atual gerou uma situação sem precedentes, mas que poderá se repetir lá ou em outros locais. O que está sendo feito em outras regiões do Brasil? Há projetos de adaptação sendo executados?

    A verdade, ao menos até a tragédia no RS, é que muitos políticos pensam em verbas e projetos apenas de olho no calendário eleitoral. Isso acontece em todo o Brasil. Na visão de muitos políticos, as obras de prevenção e adaptação às mudanças climáticas acabam por angariar menos votos do que outras mais aparentes e vistosas. Será que estamos diante de um ponto de virada no pensamento político? Foi necessário que uma grande tragédia acontecesse para essa mudança se processar?

    Neste ano, as eleições municipais vão se mostrar como uma ótima oportunidade para verificar como as diversas candidaturas vão tratar deste tema, considerando a densidade e a profundidade das propostas.