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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Janeiro bateu recorde de temperatura. Isso não é nada bom

    Temperatura média global, em janeiro, ficou 1,75 °C acima dos níveis pré-industriais, segundo o programa Copernicus, da União Europeia

    Com o Acordo de Paris, ficou estipulado que empreenderíamos esforços para evitar que a elevação da temperatura média global, em relação aos níveis pré-industriais, ultrapassasse 1,5 °C. Esse seria o limite “administrável” em que ainda poderíamos lidar com os eventos extremos.

    Quebramos essa barreira em 2023 e voltamos a ultrapassá-la em 2024.

    Cenário obscuro

    Em janeiro deste ano, segundo o programa Copernicus, a temperatura média global ficou 1,75 °C acima dos níveis pré-industriais, apesar do La Niña, que deixa parte do Oceano Pacífico equatorial com águas mais frias em sua superfície. A figura abaixo mostra como as temperaturas de 2023 e 2024 têm evoluído e como iniciamos 2025.

    Anomalias mensais da temperatura global do ar na superfície em °C. Janeiro de 2025 é mostrado com ponto vermelho, 2024 com uma linha laranja grossa e 2023 com uma linha amarela grossa. Todos os outros anos com linhas cinzas finas • ERA5/Copernicus Climate Change Service/ECMWF

    É sempre bom lembrar que a Terra é aquecida pelo Sol. O aquecimento proveniente do núcleo do planeta e de elementos radioativos contidos em seu interior é muito pequeno. O Sol é nossa grande fonte de energia.

    Parte da radiação que recebemos do Sol é absorvida pela Terra e parte é refletida de volta para o espaço. Com o acúmulo de gases de efeito estufa, parte da radiação que seria refletida ao espaço fica retida aqui e mantém o planeta mais aquecido.

    Analogamente, é como se trocássemos um lençol por um cobertor. Desde o início do período industrial, a nossa atmosfera passa por essa transformação. Isso faz com que os oceanos e a atmosfera, de maneira geral, mantenham níveis mais elevados de energia, situação que acelera os fenômenos meteorológicos.

    Os resultados mostram uma tendência clara de enfrentarmos situações extremas, como a tragédia do Rio Grande do Sul, as chuvas torrenciais em São Paulo em janeiro, as chuvas intensas na Espanha em 2024, a seca sem precedentes na Amazônia, dentre tantas outras situações.

    Com esse nível de aquecimento, estamos entrando em um cenário obscuro. Conseguimos utilizar modelos computacionais que podem simular o que poderá ocorrer e os resultados são muito negativos. Cada vez mais viveremos em uma gangorra. Teremos épocas com chuvas muito intensas e outras com estiagem prolongada e temperaturas elevadas.

    Cada vez mais se faz necessário acelerar a transição energética voltada para o uso de fontes renováveis. É fundamental não apenas zerarmos o desmatamento da Amazônia e de outros biomas, mas iniciarmos a sua recuperação. Essa é a forma mais eficiente de retirarmos parte do dióxido de carbono acumulado na atmosfera com a queima de combustíveis fósseis. Os alertas têm sido cada vez mais frequentes, assim como os eventos extremos.

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