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    Pedro Côrtes
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    Pedro Côrtes

    Professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e um dos mais renomados especialistas em Clima e Meio Ambiente do país.

    Análise: É possível desenvolver uma pauta ambiental nos BRICS?

    Lula disse não haver dúvidas de que a maior responsabilidade sobre as mudanças climáticas recai sobre os países ricos pelo seu histórico de emissões

    Em seu discurso na reunião dos BRICS, o presidente Lula disse não haver dúvidas de que a maior responsabilidade sobre as mudanças climáticas recai sobre os países ricos pelo seu histórico de emissões.

    Ele também mencionou os 100 bilhões anuais prometidos pelos países ricos aos países pobres para fortalecer medidas de mitigação dos efeitos das emissões. Valor esse nunca divisado.

    Aqui temos duas questões.

    A primeira delas, mais objetiva, é o valor prometido pelos países desenvolvidos que seriam aplicados em medidas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas nos países pobres. Isso não acontecerá. Nada perto disso aconteceu.

    É provável que projetos específicos, como aqueles desenvolvidos pelo Fundo Amazônia, continuem captando recursos no exterior. Até o momento, esse fundo conseguiu internalizar cerca de US$ 738 milhões, um valor considerável.

    O Fundo Amazônia consegue esse nível de captação, pois ele passa por uma auditoria contábil (que verifica as demonstrações financeiras) e por uma auditoria de compliance (que verifica o cumprimento das ações que podem ser apoiadas). Tudo isso administrado pelo BNDES.

    Não é todo o país pobre – ou em desenvolvimento – que consegue esse tipo de ordenamento que facilite a captação de recursos.

    A segunda questão subentendida no discurso do presidente Lula é a necessidade de colocar uma pauta ambiental para os BRICS. Seria isso possível?

    Vejamos: com a entrada do Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos nos BRICS, temos grandes produtores de petróleo que se unem a outros grandes no setor como Rússia, China e Brasil.

    Na lista atualizada dos BRICS, encontramos sete dos maiores produtores de petróleo no mundo. Não se trata de duvidar das boas intenções do governo brasileiro, mas de analisar essa ideia do ponto de vista prático.

    A mitigação das mudanças climáticas requer uma transição energética que priorize fontes de energia renováveis em detrimento do uso de combustíveis fósseis. É claro que, no papel, tudo é possível. Inclusive colocar uma pauta de transição energética na agenda dos BRICS.

    Uma transição lenta, gradual e segura, como o setor de combustíveis fósseis prefere mencionar. Para abrandar possíveis críticas, talvez acenem com algo do tipo “vamos utilizar a exploração de petróleo para financiar a transição energética”.

    Os países produtores de petróleo resolveram abraçar as causas ambientais e sustentar a necessidade de mitigar as mudanças climáticas. Algo similar ao que faz um urso com suas vítimas. Ao invés de contestar as mudanças climáticas, eles se aproximam dos fóruns internacionais onde isso é discutido para colocar a ideia de que “a exploração de petróleo vai financiar a transição energética”. Sempre lenta, gradual e segura.

    A COP deste ano terá lugar no Azerbaijão, um dos grandes produtores mundiais de petróleo. A COP de 2023 aconteceu nos Emirados Árabes Unidos, também grande produtor.

    A aproximação dos grandes produtores de petróleo das pautas ambientais já está acontecendo. Não sem segundas intenções, suponho. Portanto, é possível que os BRICS abracem uma pauta ambiental, mas é plausível que seja um abraço de urso.

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