Paris 2024: basquete masculino parte em busca da reconstrução
Modalidade, que já foi a segunda em popularidade no Brasil, tenta recuperar prestígio histórico após classificação sensacional
A pouco mais de duas semanas para o início dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o esporte brasileiro recebeu uma ótima notícia: a surpreendente classificação do basquete masculino.
A vitória por 94 a 69 sobre os donos da casa, na final do Pré-Olímpico da Letônia, leva o Brasil de volta ao torneio olímpico de basquete, após ausência em Tóquio.
O basquete masculino do Brasil tem enorme tradição. Conquistou três medalhas de bronze olímpicas (1948, 1960 e 1964) e foi bicampeão mundial (1959 e 1963) no século passado.
Uma crise perene entre Confederação Brasileira (CBB) e Novo Basquete Brasil (NBB), que organiza a Liga Nacional, trava a recuperação da modalidade no País.
Brasil já foi potência mundial no basquete
Durante muitos anos, o basquete foi o segundo esporte na preferência do torcedor brasileiro. Gerações de grandes jogadores se sucederam, e o Brasil foi potência mundial.
Nomes como Zenny de Azevedo, o Algodão, Massinet e Marson, medalhistas de bronze em Londres 1948, pavimentaram o caminho para anos dourados do basquete masculino do Brasil.
Vice-campeão mundial em 1954, em casa, o Brasil conquistou o título em 1959, no Chile. Um time formado por craques como Wlamir Marques, Amaury Passos, Carmo de Souza, o Rosa Branca, Edson Bispo e Algodão, remanescente de 1948.
Única medalha brasileira em Tóquio 1964
Em 1960, o Brasil ganhou a medalha de bronze na Olimpíada de Roma e, três anos depois, veio o bicampeonato mundial, no Rio de Janeiro.
Era tamanha a importância do basquete masculino para o esporte brasileiro que a modalidade conquistou a única medalha do País nos Jogos de Tóquio, em 1964. O bronze veio como resultado da mescla entre os experientes bicampeões mundiais e novos talentos como Ubiratan Pereira Maciel, Jatyr e Edvar Simões.
O Brasil seguiu forte. Ficou em terceiro lugar no Campeonato Mundial de 1967 e foi vice na edição de 1970, inclusive derrotando os Estados Unidos. O treinador em 1970 foi o lendário Togo Renan Soares, o Kanela, bicampeão mundial em 1959 e 63, que era tio do humorista e apresentador Jô Soares.
Basquete lotava o Ginásio do Ibirapuera
Uma nova geração surgia, inspirada nos ídolos bicampeões mundiais. Wlamir, Rosa Branca, Ubiratan e Menon abriam caminho para Hélio Rubens, Mosquito e Marquinhos.
O último grande momento do Brasil em Mundiais foi a conquista do terceiro lugar em 1978, nas Filipinas. Essa medalha foi marcada por uma cesta histórica de Marcel, do meio da quadra, a dois segundos do final, garantindo a vitória sobre a Itália, por 86 a 85.
A seleção brasileira tinha, além de Marcel, Ubiratan, Hélio Rubens, Carioquinha, Marquinhos e novos nomes como Fausto Gianechini, Marcelo Vido, Agra e Gilson.
Foi um período em que era comum ver o Ginásio do Ibirapuera, o principal palco do basquete nacional, lotado para jogos da Seleção e decisões de torneios nacionais e internacionais. Em 1979, o Esporte Clube Sírio ganhou a Copa William Jones, o título mundial de clubes, liderado por Marcel e Oscar.
Pan nos EUA: a última grande glória do basquete brasileiro
Em 1987, aconteceu a última grande glória do basquete masculino brasileiro, a histórica conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de Indianápolis, consagrando a geração de Marcel e Oscar.
A vitória sobre os Estados Unidos por 120 a 115, na terra do basquete, é um dos maiores feitos do esporte brasileiro. O time norte-americano tinha as futuras estrelas da NBA David Robinson, Dan Majerle e Danny Manning.
Há uma corrente histórica que afirma que a formação do Dream Team (Time dos Sonhos) dos EUA para a Olimpíada de Barcelona, em 1992, foi motivada por essa derrota. David Robinson estava no elenco do Dream Team, e Oscar e Marcel jogaram pelo Brasil em 1992.
Foi em 1992 que o basquete feminino do Brasil estreou nas Olimpíadas. A geração espetacular capitaneada por Paula e Hortência seria campeã mundial em 1994 e medalha de prata olímpica em 1996. A seleção feminina não se classificou para os Jogos de Paris.
“Concorrência” do vôlei e guerra de vaidades
Coincidentemente, a ascensão em popularidade do voleibol, que começou na década de 1980, se solidificou com o ouro olímpico do time masculino em 1992.
A partir de então, vítima da guerra de vaidades entre seus dirigentes, o basquete masculino brasileiro entrou em decadência.
A modalidade ficou de fora dos Jogos Olímpicos de 2000, 2004 e 2008. Retornou em 2012, jogou em casa e ficou em quinto lugar em 2016, e não foi a Tóquio em 2020-21.
A classificação para os Jogos de Paris gera uma nova oportunidade de reconstrução para o combalido basquete brasileiro.