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    Maurício Noriega
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    Maurício Noriega

    Mauricio Noriega é um dos jornalistas esportivos mais reconhecidos do país. Ganhou o prêmio ACEESP de melhor comentarista esportivo de TV seis vezes.

    Neymar na Série B é só uma provocação sobre nosso último grande craque

    Provocações sadias são boas para fazer as pessoas pensarem fora de suas bolhas

    Neymar é polêmica em estado bruto. Não é mais o menino que encantou o Brasil e o mundo com dribles desconcertantes e gols espetaculares. Neymar Júnior já é quase sênior, pai de família. Tenho a impressão de que, infelizmente, Neymar deixou de ser levado a sério como jogador por boa parte dos torcedores brasileiros.

    Durante o Domingol Com Benja de 18 de fevereiro, o irreverente Mano fez uma provocação inteligente sobre Neymar que vai na linha do que escrevi acima. O que disse o Mano? Que seria bom para Neymar recuperar a credibilidade e o carinho do torcedor se ele demonstrasse compromisso e amor pelo Santos, clube que o revelou, jogando a Série B.

    Bastou para recebermos uma coleção de impropérios no padrão de coerência das redes sociais. Até quem chama jogador de mercenário caiu de pau em cima da gente, dizendo ser loucura trocar os petrodólares dos árabes sauditas pela segunda divisão.

    Provocações sadias são boas para fazer as pessoas pensarem fora de suas bolhas.

    As maiores críticas que pesam sobre Neymar são sobre seu estilo de vida e — a preocupação favorita de dez entre dez invejosos de plantão — o dinheiro que ele ganha e o que faz com ele. O modo de vida do jogador é direito dele e de mais ninguém. Neymar é um expoente de uma atividade que remunera muito bem seus expoentes. Muitos outros craques brasileiros do passado foram baladeiros e não levaram as pancadas que Neymar leva. Vide Ronaldinho Gaúcho.

    O que provoca as polêmicas é o fato de ele ser o último grande craque brasileiro. Todos que amam o futebol neste país depositaram nele seus sonhos de ver a Seleção Brasileira ganhando novamente uma Copa do Mundo e resgatando o estilo de jogo bonito.

    Não consigo vislumbrar uma Seleção Brasileira forte sem Neymar.

    O atacante é um atleta profissional muito bem-sucedido. Campeão olímpico, da Libertadores, da Champions. Embora não tenha amizade e nem proximidade com ele, posso assegurar que é uma pessoa educada, gentil e carinhosa com os fãs, por ter testemunhado esse comportamento de forma muito próxima. Também ajuda muita gente sem ter obrigação e não faz publicidade disso.

    Nesta altura da vida, aos 32 anos, parece ter encontrado outras paixões além do futebol (quem disse isso foi seu treinador no Al-Hilal, Jorge Jesus). Some-se a isso uma série de lesões e a inevitável queda de rendimento físico provocada pela idade e temos um Neymar bem diferente daquele que se despediu do Santos em 26 de maio de 2013, rumo a uma bem-sucedida passagem pelo Barcelona, um período de altos e baixos no Paris Saint-Germain e o Al-Hilal.

    A provocação do retorno ao Santos para a Série B, uma ideia praticamente impossível de se realizar por questões de tempo, contratos e multas milionárias, sugere uma chacoalhada. Neymar, de cara, derrubaria a tese maniqueísta dos que o acusam de pensar apenas em dinheiro. Além disso, faria uma demonstração inequívoca de compromisso. Talvez até recuperasse o prazer de jogar e a forma, vivendo a nostalgia de seus tempos de garoto sonhador, atuando em campos ruins, longe da fama e dos holofotes.

    Muitos críticos da provocação dizem que nenhum jogador consagrado aceitaria jogar a Série B. Em 2006, a Juventus de Turim, o maior time da Itália, disputou a segunda divisão por causa de um escândalo de corrupção. A lista de grandes jogadores que permaneceram na equipe para jogar a segundona italiana é um tapa na cara dos que riram da provocação: Buffon, Chiellini, Camoranesi, Del Piero, Trezeguet e Nedved. Jogadores consagrados e milionários. Trezeguet era campeão mundial. Buffon e Chiellini ainda seriam.

    Em 2002, já campeão do mundo, o goleiro Marcos foi rebaixado com o Palmeiras para a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele ficou no clube para a disputa da segunda divisão, mesmo sabendo que poderia jogar praticamente onde quisesse.

    Compromisso e comprometimento.

    Provocações.


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