“Polícia para todo lado”: aluno brasileiro relata tensão na Universidade de Columbia
A pedido da universidade, policiais devem continuar no campus até 17 de maio; estudantes estão tendo aulas online e cerimônia de formatura é incerta
Alunos da Universidade de Columbia, em Nova York, epicentro dos protestos pró-Palestina nos Estados Unidos, lidam com com um clima de medo e incerteza. O acesso ao campus, antes liberado, agora é permitido apenas para estudantes e funcionários considerados essenciais. E a presença ostensiva de policiais chama atenção.
“É estranho ver o campus em silêncio total e com polícia para todo lado”, conta Marco Postigo Storel, estudante de mestrado em jornalismo na universidade. “Você vê também gente que mora no campus levando as coisas para fora e indo embora, saindo, porque as aulas agora estão online.”
Jornalista, Marco acompanhou os protestos desde os primeiros dias, tirando fotos para publicações internas da instituição e trabalhando como freelancer para outros veículos. O acesso da mídia foi restrito – primeiro, a imprensa só podia entrar no campus durante uma janela de tempo limitada à duas horas por dia; depois, foi proibida completamente.
Foram os estudantes, então, que providenciaram ao mundo as imagens da operação policial que levou à desocupação de um dos prédios do campus, o Hamilton Hall, na terça-feira (30). Marco atribui a essa noite, inclusive, o clima de tensão que sente agora ao andar pelo campus. “Acho que é resquício de como a noite com a polícia foi agressiva”, afirma.
Ele diz não ter presenciado nenhum tipo de conflito enquanto os alunos estavam acampados no meio da universidade. Mais de cem barracas ficaram erguidas em um gramado central por duas semanas – até que a universidade chamou a polícia.
A pedido da direção, policiais devem permanecer no campus até o dia 17 de maio. Marco também diz que a tradicional cerimônia de formatura na instituição, marcada para 15 de maio, agora é incerta.
Uma das mais tradicionais do país, a Universidade de Columbia também tem a tradição de ser palco de protestos. Foi assim em 1968, época dos protestos contra a Guerra do Vietnã, em que jovens tomaram o Hamilton Hall, mesmo prédio ocupado nas manifestações de agora. E assim como em 1968, houve repressão policial.
Os protestos se espalharam por quase metade dos estados americanos; mais de duas mil pessoas foram presas em campi pelo país – muitas delas por invasão de propriedade privada. Nos Estados Unidos, as manifestações acentuaram discussões sobre o que de fato define o antissemitismo, mobilizaram o Congresso e se tornaram símbolo do descontentamento que parte importante do eleitorado de Joe Biden sente com relação à postura do governo americano sobre o conflito.
E os reflexos, é claro, vão além do país. Na Faixa de Gaza, a CNN gravou imagens de crianças segurando cartazes expressando solidariedade aos alunos de universidades americanas que pedem para que a população seja protegida dos ataques israelenses. Desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, que deixaram 1200 pessoas mortas, pelo menos trinta mil Palestinos morreram na guerra em Gaza.