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    Mariana Janjácomo
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    Mariana Janjácomo

    Correspondente em Nova York, Mariana Janjácomo é mestre em jornalismo pela New York University e ama descobrir cada canto de uma das cidades mais multiculturais do mundo

    Trair deve deixar de ser crime em breve em Nova York

    Lei que proíbe o adultério no estado foi criada em 1907; muitos novaiorquinos não sabiam do infração até o assunto entrar em pauta no Senado estadual

    O projeto que busca revogar uma lei estadual que classifica o adultério como contravenção sujeita a até três meses de cadeia foi aprovado no Senado estadual e agora segue para a sanção da governadora de Nova York, Kathy Hochul.

    Só que muitos novaiorquinos não faziam ideia da existência da lei, que foi criada em 1907. O assunto logo gerou interesse (para alguns, preocupação) e ganhou uma enorme repercussão por aqui.

    A legislação estadual de Nova York determina que alguém casado é culpado de adultério quando tem uma relação sexual com outra pessoa que não seja o cônjugue. Quem tem relação sexual com a pessoa casada, mesmo que seja solteiro, também é considerado culpado perante a lei.

    A medida foi aplicada pouquíssimas vezes ao longo da história, apenas 13 vezes desde 1972, segundo o autor do texto que busca revogar a regra, o democrata da Assembleia Estadual de Nova York Charles Levine. De fato, é um resquício da época em que as pessoas não eram livres para sequer se divorciarem.

    Na Nova York de 1907, o adultério era o único motivo aceito pela Justiça para conceder o divórcio. Por isso, alguns casais que queriam muito se separar chegavam até a forjar uma traição juntos.

    Um artigo daquele ano publicado no jornal The New York Times afirma que, para que a lei fosse aplicada, era necessário provar não só o adultério, mas que o ato aconteceu sem que a pessoa traída soubesse ou fosse conivente com isso. À época, a pena prevista pelo adultério poderia ser de até um ano de prisão e/ou o pagamento de até 500 dólares de multa.

    As primeiras prisões sob a lei, de acordo com o arquivo do New York Times, aconteceram em setembro de 1907. Patrick H. Hirsch, descrito como um rico empreiteiro ferroviário casado, foi considerado culpado por ser casado e manter um relacionamento com Ruby Yeargin, caracterizada pelo jornal como uma jovem de 25 anos. Ela também foi considerada culpada pela Justiça.

    O artigo detalha a forma como a esposa de Hirsch, Elizabeth Evans, filha de um dos homens mais ricos do estado da Geórgia, descobriu que o marido, na verdade, estava vivendo com outra mulher. Ela contratou detetives particulares e foi em busca do mandado de prisão sob a lei que tinha acabado de entrar em vigor. A história envolveu até mesmo a disputa pela guarda do filho de Patrick e Elizabeth.

    A reportagem também descreve a reação do casal considerado culpado pela Justiça: segundo o New York Times, os dois teriam se ajoelhado no chão e implorado aos policiais para que não fossem presos. O adultério ainda é ilegal em alguns estados americanos, mas o artigo contando a história do primeiro casal punido pela lei é o retrato de um tempo que não lembra em nada a Nova York progressista de hoje.