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    Mariana Janjácomo
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    Mariana Janjácomo

    Correspondente em Nova York, Mariana Janjácomo é mestre em jornalismo pela New York University e ama descobrir cada canto de uma das cidades mais multiculturais do mundo

    Furacão Sandy: o que o RS pode aprender com a recuperação do desastre em NY

    Doze anos depois, área da cidade atingida pelo furacão está reconstruída; processo de recuperação foi focado em prevenção contra novos desastres

    Em outubro de 2012, tempestades sem precedentes atingiram Nova York: foi o furacão Sandy, que, só na cidade, matou mais de 40 pessoas e deixou outras milhares desalojadas; mais de 69 mil casas foram pelo menos parcialmente danificadas. E o processo de recuperação, que incluiu a reconstrução da região costeira da cidade, traz lições valiosas.

    Guardadas as devidas proporções entre os desastres no Rio Grande do Sul e em Nova York, o estado gaúcho pode passar por um processo bem similar ao que aconteceu aqui nos Estados Unidos.

    Eu conversei com Taddheus Powlawski, professor de arquitetura, planejamento e preservação na Universidade de Columbia que ajudou a desenvolver o plano de recuperação na prefeitura de Nova York à época do Sandy. Ele me explicou que um dos principais desafios enfrentados aqui foi não só reconstruir, mas reconstruir com resiliência.

    Isso significa que, na prática, fazer reconstruções com adaptações para que as estruturas fiquem mais protegidas contra desastres climáticos no futuro demora mais do que simplesmente reconstruir tudo da forma como era – o que também já seria difícil. Encontrar o equilíbrio entre atender uma população em estado de extrema vulnerabilidade e fazer uma recuperação mais demorada, focada em prevenção contra futuros desastres, é desafiador.

    É por isso que profissionais envolvidos nesse tipo de plano costumam dizer que reconstruir depois de desastres é como construir um avião enquanto a aeronave já está no ar. São milhares de pessoas precisando de ajuda imediata e estruturas que precisam ser recuperadas de forma a evitar novas tragédias no futuro.

    Para começar a resolver essa equação difícil, é claro que, antes de qualquer outra coisa, é preciso dinheiro.

    No caso do furacão Sandy, o governo federal americano repassou mais de 14 bilhões de dólares para a cidade de Nova York – mas os profissionais afirmam que a legislação rígida sobre como gastar esse dinheiro, que é geral e não considera aspectos específicos das comunidades atingidas, dificultaram os planos.

    É por isso que, como Powlawski me explicou, em momentos como esse é preciso unir forças com outros setores da sociedade, como o privado, por exemplo. E fazer um trabalho próximo das comunidades, levando em conta as necessidades específicas de cada local impactado.

    Aqui em Nova York a região costeira foi reconstruída de forma mais elevada, pensando no nível do mar, que não para de subir.

    Os resultados servem de modelos para outros lugares ao redor do mundo, mas trouxeram também questões que vieram depois e ainda precisam ser solucionadas, como preços mais altos dos imóveis em regiões que antes eram mais acessíveis.

    Como os alertas dos cientistas são de que, por causa das mudanças climáticas, desastres assim devem se tornar cada vez mais comuns, a necessidade de se reconstruir com resiliência, pensando no futuro, é grande. Infelizmente, o número de “refugiados climáticos”, termo popularizado pela ONU para definir pessoas forçadas a deixar suas casas por causa de eventos climáticos, tende a crescer no mundo de forma geral – e é preciso se planejar para lidar com isso.