Descobri que tenho FOLO: você sabe o que é?
“Fear of logging off” significa “medo de se desconectar”; como então criar uma relação saudável com a internet?
Se eu te falar agora pra desconectar teu celular e ficar offline, você conseguiria? Eu confesso que teria bastante dificuldade. Além de gostar muito de mexer na internet, eu trabalho com ela, então só a ideia de me desligar de tudo já me dá um pouco de ansiedade. Foi fuçando aqui, inclusive, que eu descobri o termo FOLO, que significa “medo de se desconectar” – muito parecido com outro termo já bem conhecido: FOMO, que significa “medo de perder alguma coisa/evento/acontecimento”.
Eu tô aqui me abrindo com vocês porque tenho certeza que eu não sou a única que sente isso. O Brasil é o segundo país no mundo que mais gasta tempo na frente de uma tela – atrás só da África do Sul. A gente fica, em média, 9 horas e meia POR DIA no celular ou algum outro aparelho. São dados de uma pesquisa internacional feita pela Electronics Hub. E são as pessoas que passam mais tempo nas redes sociais que têm mais ansiedade, segundo uma outra pesquisa recente que a gente divulgou aqui na CNN.
Conversei com o Cristiano Nabuco, que é psicólogo e pioneiro nos estudos das dependências tecnológicas aqui no Brasil, pra entender então por que existe esse medo de se desconectar e “perder” o que tá acontecendo.
Ele me disse que a gente passa 56% do tempo que tá acordado interagindo com telas, de acordo com uma pesquisa brasileira divulgada pela USP. Isso significa que o nosso mundo tem um pé na vida digital e o outro na vida real. A diferença é que, ao contrário do mundo aqui fora, a internet traz uma sensação de controle, ou seja, é a gente que decide a imagem que vai passar. Dá pra errar, parar, voltar atrás… Tudo isso cria uma espécie de “proteção psicológica”, como ele me explicou. “Quando eu saio ou tenho medo de me desconectar, é como se eu estivesse perdendo magicamente todas essas habilidades, todos esses trunfos e skills que a vida digital me dá”, disse.
E são essas habilidades que ajudam a construir nossa personalidade digital que, na maioria das vezes, é a melhor versão de nós mesmos – principalmente se a vida aqui fora não estiver tão boa. “Quanto mais insegura for a pessoa, quanto mais privada ela estiver de realizações na vida concreta, mais ela migra pra vida digital. E isso se torna um círculo vicioso, vai escalando a um determinado ponto onde ser alguém na vida digital precede as experiências do mundo real”, alertou o Cristiano.
Sério, pessoal, vocês leram com atenção? Vou escrever de novo: SER ALGUÉM NA VIDA DIGITAL PODE PRECEDER AS EXPERIÊNCIAS DO MUNDO REAL. Isso não assusta vocês? Porque eu fiquei parada nessa frase um tempão tentando digerir o que ela diz. Ao mesmo tempo que eu quero viver a internet e tudo de bom que ela me oferece, eu não quero tirar meu pé do mundo real. Por isso que fiz outra pergunta pro Cristiano – existe um jeito, então, de ter uma relação saudável com a vida online?
“É a pergunta de um milhão de dólares. Eu sou um entusiasta da tecnologia, como todos nós em alguma medida somos, mas o grande ponto é: você pode usar a tecnologia desde que você tenha um propósito específico. Eu, por exemplo, estou usando aqui e me concentrando pra te responder. A hora que eu terminar, eu devo ter mais um milhão de mensagens no WhatsApp. Eu não vou olhar agora. Eu vou parar, tomar um café, vou no banheiro e vou fazer o que tenho que fazer. Obviamente isso sempre vai ser um desafio”, ele me disse.
Um desafio que pode ser ainda maior pra quem trabalha com a internet, como eu. “Muitas pesquisas mostram que a mera proximidade do telefone celular já reduz em um terço a nossa capacidade intencional. Mesmo sem utilizá-la. Então, esse é o grande ponto. Que a gente tenha propósito e não seja aquilo que muita gente hoje se autodenomina: multitarefa. Não existe isso. Se você quiser trabalhar com tecnologia, pode, mas na hora que você terminar de escrever seu texto do blog, você para e vai interagir com seu filho, ouvir uma música, fazendo o possível pra equilibrar. É o que a gente chama de uma dieta digital”.
Depois dessa, eu acho que é melhor encerrar esse texto, né? Vou ouvir música, comer alguma coisa, ler o livro que tá parado na minha estante há um tempão… tanta coisa que eu deixo de lado pra ficar na internet. Depois eu volto aqui no blog pra gente conversar mais sobre esse e outros assuntos.