O mercado de influência só olha para os milhões de seguidores?
A advogada Deolane Bezerra, que foi presa nessa semana, tem mais de 20 milhões só no Instagram; conversei com a Rafa Lotto, especialista no assunto, pra entender o que esses números significam para o mercado
Nessa semana, a advogada Deolane Bezerra foi presa em uma operação que investiga lavagem de dinheiro e jogos ilegais na internet. Não vou comentar o caso dela especificamente, mas sim entrar na discussão que surgiu a partir dele: sobre o tal mercado de influência. Eu sei que esse assunto não é necessariamente uma novidade, mas sempre aparece uma camada diferente pra gente conversar. A Deolane, por exemplo, tem mais de 20 milhões de seguidores só no Instagram. Por mais que o número seja muito alto, muita gente só a conheceu essa semana por causa do noticiário. “Quem é ela? O que ela faz? Por que tantos seguidores?”.
Conversei com a Rafa Lotto, que é sócia da YouPix, uma consultoria reconhecida como referência na criação de estratégias e desenvolvimento de negócios na Creator Economy, pra entender um pouco desse fenômeno. A Rafa me disse que essa vida de ostentação que muitos influenciadores têm na internet não necessariamente vende. “É curioso e inacessível. É aquilo que muita gente gostaria de ter acesso e só tem através da vida exposta de quem tá lá. Mas a ostentação em si, sozinha, não traz esses números absurdos. No caso da Deolane e de muitos outros ‘influencers’, os números foram inflados por uma combinação de exposição na TV e polêmicas. Assim ela foi ganhando atenção e seguidores.”
Esse número absurdo de seguidores, pra muita gente, é o que define a relevância do influenciador. De fato é uma medida importante, mas será que a gente ainda precisa se apegar só a ela? “Ainda se tem essa ideia de que se você tem muito seguidor, você vai conseguir ganhar dinheiro e fazer publicidade. Mas a gente já sabe que isso não necessariamente converte, não significa que essa audiência venda, não é isso que constrói credibilidade”, disse a Rafa.
De fato, é muito mais do que ter os milhões – até porque muita gente ainda compra seguidores, então esse número pode ser bem vazio. O que vale também, ou até mais, é o papel que aquele influenciador exerce na sua audiência. É pra isso que muitas marcas estão olhando.
“Ainda antes da quantidade de seguidor, muitas marcas olham pra conexão que os criadores têm com a audiência delas e o risco que eles podem trazer. Imagina se uma marca estivesse fazendo uma publicidade com uma pessoa que foi cancelada ou presa. É um risco reputacional gigantesco. Então ao mesmo tempo que o número é uma métrica importante, ele sozinho não sustenta mais especialmente no trabalho com as marcas. Porque é uma galera que tá lá curiosa, atrás da fofoca, da polêmica, mas não necessariamente é um consumidor tanto pra marca, quanto até pra pessoa se ela quiser vender alguma coisa diretamente dela”.
E pra gente, que tá na internet como público, o que tirar dessa discussão? “Acho que cada polêmica dessa é didática de alguma maneira pra qualquer pessoa que tá na audiência aprender, ter mais repertório pra começar a filtrar aquilo que consome. Do mesmo jeito que a gente se preocupa em não cair no golpe do WhatsApp clonado, a gente tem que se preocupar em não cair no golpe do influenciador de audiência inflada e reputação duvidosa. Tem tanta gente na internet que não dá pra prender todo mundo que tá fazendo errado – ainda. Então, cabe a nós fazer a escolha certa de quem seguir”, defende a Rafa.
Relembre as polêmicas de Deolane: