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    Márcio Gomes
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    Márcio Gomes

    Jornalista com mais de 30 anos de carreira, foi correspondente internacional e apresenta o CNN Primetime - mas sem deixar de fazer o que mais gosta, ir pra rua contar histórias!

    O que ganhamos com um transporte público mais eficiente

    A qualidade de vida no Brasil daria um salto se houvesse mais sistemas de metrô nas cidades brasileiras. E, mesmo sabendo disso, não cobramos o quanto deveríamos.

    Você certamente conhece uma pessoa assim. Ou você mesmo já fez isso. Na verdade, aposto, todos fizemos isso ao menos uma vez: numa viagem ao exterior, com amigos ou família, tiramos foto usando o transporte público. Normalmente é o metrô, né?

    Nos divertimos no sacolejar da composição. Observamos as pessoas no aperto do vagão lotado. Estamos alertas, não com assaltos ou qualquer tipo de violência, mas em não perder a nossa estação de destino. Até a eventual sujeira na plataforma é detalhe: uma vez brinquei com minha filha, ainda pequena, em Nova York, “vamos procurar ratinhos nos trilhos?”. E foi só olhar pra baixo que lá estava, uma ratazana acinzentada enorme, seguindo em alta velocidade nos trilhos rumo ao Central Park.

    Mas, de férias, tudo é diversão. Ficamos fascinados com esse serviço (que em alguns locais existe há mais de 100 anos!) e como os moradores das cidades mais importantes do mundo, pelo menos enquanto fazem as suas viagens, são absolutamente iguais. O rico e o pobre se encontram nos sistemas de metrô, não importa se em Londres, Paris, Tóquio.

    Mas os dias de descanso terminam e aí… quando retornamos ao Brasil, voltamos também a uma realidade muito nossa: o reencontro com nosso carro nos esperando na garagem. As fotos (muitas delas, orgulhosamente postadas nas redes sociais) serão a lembrança de termos experimentado, por um instante, a cidade ideal. Onde um bom sistema de transporte facilita a vida de seus moradores e torna a vida melhor.

    Por que estamos tão distantes disso aqui?

    Eu sei, começamos tarde a construir nossos sistemas de metrô. O de São Paulo nasceu em 1974. No Rio, 1979. Como expandir as linhas em cidades densamente povoadas? Por isso, não condeno quem não utiliza o subterrâneo. Não há estações em todos os bairros, no horário de maior movimento pode ser impossível entrar numa composição, atrasos podem ocorrer.

    E talvez até por isso, muita gente não cobre medidas para termos um transporte público de mais qualidade. Se a gente não usa, não sabe o estado dele – e não pensa em como fazer para melhorar. E isso é uma pena. Veja o exemplo em São Paulo da Linha 17 – Ouro, prevista para 2026. Será uma espécie de monotrilho que vai conectar o aeroporto de Congonhas ao sistema de metrô da cidade. Era para ter sido entregue em 2014 (!).

    Basta uma rápida consulta no Portal da Transparência do Metrô para tomarmos conhecimento de dados impressionantes. Quando a linha 17 estiver operando, haverá uma redução de emissão de poluentes na casa de 226 toneladas ao ano, equivalentes a uma economia de R$ 1,32 milhões; uma redução de gases de efeito estufa: 25.711 toneladas ao ano, equivalentes a uma economia de R$ 7,62 milhões; redução do consumo de combustível (imaginar do que muita gente vai optar por deixar o carro na garagem): 11,7 milhões de litros por ano, equivalentes a uma economia de R$ 55,17 milhões.

    O transporte sobre trilhos ajuda a despoluir as nossas cidades. E pensar que poderíamos ter essa contribuição, na Linha 17, desde 2014!! Doze anos com ar mais poluído, menos saúde, vendo um pedaço da cidade se transformando num canteiro de obras, no ritmo de “para e anda”(fora os gastos que esse atraso não gera). Circulamos (de carro…) ao lado desse monumento ao desperdício e somos incapazes de nos indignar.

    No Rio, acreditávamos que os Jogos de 2016 seriam um motivo de, finalmente, vermos a ampliação do metrô até a Barra da Tijuca. O que os cariocas receberam, pelo custo menor e prazo de obra, foi um sistema de ônibus do modelo BRT, com faixas exclusivas e plataformas de embarque que funcionam como estações. Poluem menos se comparados a um ônibus comum e por tantos carros sendo retirados das ruas, mas longe do que poderíamos ter se, nos 6 anos de organização dos Jogos, tivéssemos feito um trabalho melhor e construído trilhos.

    O importante é a gente não esquecer: a comodidade do carro é um preço alto (que todos pagamos) pela carência de bons sistemas de transporte nas cidades brasileiras. Para mudar isso, todos precisamos nos envolver. E isso vai além das postagens nas redes sociais.

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