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    Márcio Gomes
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    Márcio Gomes

    Jornalista com mais de 30 anos de carreira, foi correspondente internacional e apresenta o CNN Primetime - mas sem deixar de fazer o que mais gosta, ir pra rua contar histórias!

    Olhando para trás, para saber o caminho a seguir

    Não é a primeira vez que os Estados Unidos anunciam sua desistência de políticas verdes - o que aprendemos, desde então?

    Uma enorme sombra paira sobre a COP30. E seu nome é Donald Trump.

    Toda a agenda do evento parece correr riscos com os recentes posicionamentos do presidente norte-americano. Como em toda COP, as discussões serão importantes: no estabelecimento de metas de descarbonização, as estruturas de financiamento, na participação não apenas de governos mas também de empresas privadas, ONG’s, comunidades locais.

    O fato de Trump retirar o seu país do Acordo do Clima de Paris – que este ano completa 10 anos – pode, sim, ser um fator de preocupação. Mas como disse o presidente da Conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, em entrevista recente ao Roda Viva (TV Cultura), “quem está saindo do Acordo de Paris é o governo americano, mas não são os Estados Unidos“.

    Uma visão corroborada pela diretora do clima, energia e finanças sustentáveis do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), Viviane Romeiro. O Conselho foi fundado em 1997 com o objetivo de integrar os princípios e as práticas do desenvolvimento sustentável no contexto dos negócios, conciliando as dimensões econômica, social e ambiental.

    Viviane Romeiro fala com a experiência de quem esteve em 18 COP’s. E já viu outros ataques vindos do presidente republicano. No primeiro mandato (entre 2017 e 2020), Trump também anunciou o rompimento com o que foi discutido em Paris em 2015, como as medidas a serem tomadas para manter o aumento global das temperaturas abaixo do 1,5°C.

    Efetivamente (por todas as regras estabelecidas no acordo), a saída americana só aconteceu em novembro de 2020. E a COP seguinte, a COP 26, já ocorreria tendo os Estados Unidos uma nova administração, com o recém-empossado, Joe Biden, tendo retornado o país ao Acordo.

    Mesmo assim, Viviane conta que a Conferência ocorrida na cidade escocesa de Glasgow, em novembro de 2021, foi fundamental. “Ali foi um marco para confirmar o fortalecimento dos diversos atores que fazem uma COP. Uma governança climática multilateral, com a presença mais forte da sociedade civil, de empresas, de governos subnacionais”.

    Ela lembra o movimento We Are All In (“Estamos Todos Dentro”, numa tradução livre) que surgiu em 2017, nos Estados Unidos, para servir de contraponto a Trump e suas política negacionista. E deu certo. “Apesar das decisões tomadas pelo governo americano, percebemos que elas não foram impedimento para, por exemplo, o ‘boom’ do ESG, a partir de 2019, com empresas firmando compromissos climáticos”.

    A ameaça retorna agora – mais uma vez, Trump anuncia sua saída do Acordo de Paris, no momento em que o mundo percebe claramente como os eventos extremos estão mais constantes e mais intensos. E isso, por si só, já aumenta a responsabilidade do embaixador André Corrêa do Lago. E ele terá outros desafios: responder à crise do multilateralismo, o quanto essa retirada americana afeta o financiamento e o desenvolvimento tecnológico de uma transição energética, de empresas, agora, rasgando seus compromissos com medidas ESG.

    Mas Viviane afirma que nossas lideranças na COP não poderiam ser melhores. Ambos, Corrêa do Lago e Ana Toni (CEO e diretora-executiva da COP30), são especialistas renomados e tem como tocar essas discussões seguindo a liderança histórica do Brasil na área.

    Uma das estratégias que tem dado certo é que os debates não fiquem apenas dentro da COP. Outros fóruns, como o G20, Brics, Davos, também servem de palco para temas ambientais. E isso é uma forma de mitigar o posicionamento de Donald Trump assim como buscar novos compromissos pelo clima.

    “É fundamental pensar na construção de um legado pós-COP. Continuar fortalecendo o multilateralismo e pautar a agenda para as próximas décadas, para que medidas de governo não tenham impacto em medidas de estado”, conclui Viviane.

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