Análise: Vladimir Putin reduz isolamento da Coreia do Norte
Presidente russo visita Pyongyang pela primeira vez desde que chegou ao poder, há 24 anos, em busca de mais mísseis e munição de artilharia para atacar a Ucrânia
O presidente Vladimir Putin visita nesta terça-feira (18) a Coreia do Norte, um dos países que têm abastecido a Rússia com mísseis e munição de artilharia em seu esforço de guerra contra a Ucrânia. É a primeira vez que Putin vai ao país, pelo menos desde que chegou ao poder, há 24 anos.
Sob sanções ocidentais desde 2006, exatamente por causa de seu programa de desenvolvimento de mísseis balísticos, a Coreia do Norte também necessita desesperadamente de vários produtos que a Rússia tem de sobra: petróleo, gás, cereais, semicondutores e outros componentes tecnológicos de uso civil e militar.
Em artigo publicado nessa segunda-feira (17) no jornal norte-coreano Rodong Sinmun, Putin prometeu aprofundar a cooperação nas áreas de segurança e de comércio. “Desenvolveremos mecanismos alternativos de comércio e acordos mútuos que não são controlados pelo Ocidente, e resistiremos conjuntamente a restrições unilaterais ilegítimas”, escreveu Putin, referindo-se às sanções ocidentais, que também afetam a Rússia, desde a invasão da Ucrânia em 2022.
A Coreia do Norte é uma potência nuclear, com um sistema de mísseis sofisticado. Em dezembro, depois do lançamento de um míssil norte-coreano intercontinental, o governo japonês afirmou que o armamento teria alcance de 15 mil km, podendo atingir qualquer parte do território dos Estados Unidos.
A Rússia tem um arsenal ainda mais sofisticado, que inclui mísseis hipersônicos, uma tecnologia recente, capaz de driblar os sistemas antiaéreos americanos. A questão, para os russos, não é qualidade, mas quantidade: sua doutrina de guerra de saturação e sua tática de destruir a infraestrutura civil da Ucrânia têm consumido parte considerável de seu estoque de mísseis e munição de artilharia.
De acordo com o governo americano, a Coreia do Norte enviou dezenas de mísseis balísticos (capazes de transportar grandes cargas explosivas) e mais de 11 mil contêineres de munição para a Rússia. Os dois países negam. A Rússia tem recorrido também a drones e mísseis fornecidos pelo Irã.
Na visita de setembro do presidente norte-coreano, Kim Jong-un, a Moscou, Putin aparentemente impôs um limite ao nível de tecnologia que estaria disposto a compartilhar, sobretudo no que diz respeito aos satélites, estratégicos no controle da comunicação do inimigo.
Mas a Coreia do Norte não tem como impor condições. A população passa fome e o país tem sofrido da dependência excessiva em relação à China para obter alimentos e proteção política e militar. A invasão da Ucrânia, as sanções contra a Rússia e a necessidade russa de se reabastecer de mísseis e munição criaram uma oportunidade única para os norte-coreanos se aproximarem de seu outro vizinho poderoso e diversificar suas fontes de alimentos, matéria-prima, energia e tecnologia.
A Rússia já fornecia alguns bens para a Coreia do Norte. Em uma das minhas idas para o país, conheci uma norte-coreana cujo pai era oficial do Exército e viajava para a Rússia para fazer compras. A ideia agora é estreitar essas relações.
Além disso, China e Rússia têm usado seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para impedir a aprovação de novas sanções contra a Coreia do Norte. Assim como o Irã, o país do Leste Asiático encontra no bloco liderado pelas duas potências nucleares um refúgio contra o isolamento internacional.