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    Lourival Sant'Anna
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    Lourival Sant'Anna

    Analista de Internacional. Fez reportagens em 80 países, incluindo 15 coberturas de conflitos armados, ao longo de mais de 30 anos de carreira. É mestre em jornalismo pela USP e autor de 4 livros

    Às vésperas da Superterça, Suprema Corte dos EUA presenteia Trump com elegibilidade

    Decisão abre precendente para que o ex-presidente continue nas cédulas em outros estados

    O ex-presidente Donald Trump, à frente nas pesquisas de intenção de voto nas eleições de novembro, recebeu um presente da Suprema Corte na véspera de um dos eventos mais importantes do calendário eleitoral americano.

    A Corte decidiu que um governo ou tribunal estadual, no caso do Colorado, não podem declarar inelegível um candidato a presidente, com base na 14.ª Emenda.

    A emenda impede autores de insurreição ou rebelião, como seria o caso da tentativa de Trump de reverter a derrota em 2020, de ocupar cargos federais.

    O mérito sobre se a imunidade presidencial protegeria Trump, e se ele de fato cometeu esses crimes, não foi julgado pela Suprema Corte.

    É provável que só seja depois das eleições de novembro, quando, no caso de vitória do republicano, se tornará muito difícil impor-lhe uma pena.

    Cerca de um terço dos delegados dos partidos Republicano e Democrata serão eleitos nas primárias desta Superterça nos Estados Unidos.

    O evento, que reúne 15 dos 50 Estados no caso dos republicanos e 14 no caso dos democratas, costuma ser um marco nas campanhas presidenciais, definindo os favoritos nos dois partidos, em anos de primárias disputadas.

    Não é o caso deste ano. A menos que algo imprevisível aconteça, Joe Biden e Donald Trump serão os candidatos.

    Sendo assim, a Superterça pode trazer insights sobre algo ainda mais decisivo: quem tem mais chances de se eleger presidente.

    Neste momento, o retrato não é favorável a Biden.

    Pesquisa publicada no fim de semana pelo jornal The New York Times indica vitória de Trump por 48% a 43%, se a eleição fosse hoje.

    Claro, não é o voto popular que elege presidentes nos Estados Unidos, mas o Colégio Eleitoral, com número de assentos proporcional à população de cada estado.

    Nesse sentido o peso da Superterça é grande: os dois estados com maiores eleitorados, Califórnia e Texas, realizam primárias.

    Mas essa também não é a óptica mais reveladora das tendências, porque muitos estados têm maiorias cativas de um ou outro partido — caso da Califórnia, que é democrata, e do Texas, republicano.

    São os chamados estados-pêndulo, onde a maioria oscila em cada disputa, que definem as eleições presidenciais nos Estados Unidos, e neste ano eles são sete, dos quais apenas um realiza primárias nesta terça-feira: a Carolina do Norte.

    Trump e Biden não se enfrentam diretamente, mas o comparecimento e as atitudes de cada fatia do eleitorado em cada distrito de um estado-pêndulo são observados com lupa nessas ocasiões, para avaliar as chances de cada candidato.

    No Michigan, outro estado-pêndulo, que realizou primárias na semana passada, 13% dos eleitores democratas depositaram um voto de protesto contra Biden, em resposta à campanha liderada pela deputada Rashida Talib, de origem palestina, contra o apoio americano a Israel, no contexto da campanha na Faixa de Gaza.

    Nessa terça-feira, saberemos se esse movimento se espalhou pelo país, ou se é uma peculiaridade do Michigan, o estado com maior eleitorado árabe dos Estados Unidos: 2,8%.

    A vitória de Biden em 2020 se deveu em grande medida ao voto de latinos e negros.

    Segundo a pesquisa do Times, 57% desses dois grupos consideram que o país está na direção errada. É um índice menor que entre os brancos: 69%.

    Mesmo assim, esse descontentamento pode ser fatal, se Biden não conseguir revertê-lo até novembro.

    A principal razão é a inflação alta de 2022, que foi contida com a forte elevação dos juros.

    O aumento dos preços e dos juros da hipoteca, e consequentemente dos alugueis, são sentidos principalmente por negros e latinos, que têm renda mais baixa que a média dos brancos.

    Outro grupo no qual os democratas depositam esperança são as mulheres que discordam da perda da garantia do direito ao aborto, derrubada pela Corte Suprema, depois que Trump nomeou três juízes conservadores, que passaram a ter maioria.

    Na pesquisa, 39% das mulheres dizem que as políticas de Trump as ajudaram mais, pessoalmente, e apenas 18% consideram isso em relação a Biden.

    A variação é pequena na comparação com os homens: 41% elogiam as políticas de Trump e 17%, as de Biden.

    O nível de comparecimento de cada uma dessas fatias do eleitorado, sobretudo o democrata, será um importante termômetro das chances de Biden, já que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos. E, com base no que aconteceu no Michigan, não só o comparecimento, mas o voto de protesto de democratas contra o presidente.