Análise: puxão de orelha de Lula em ministros foi resposta às reclamações de Lira
Lula teria combinado com o presidente da Câmara deixar claro de que agora a articulação será ainda mais compartilhada
A sensação no Palácio do Planalto foi de estranhamento quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, durante cerimônia na tarde desta segunda (22), que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, precisa deixar de ler livros para falar mais com parlamentares, ou que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, tem que ser mais ágil.
No entanto, a cobrança pública, mais do que um puxão de orelha nos ministros, era também Lula sinalizando ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que a articulação política entre o Planalto e o Congresso Nacional será mais compartilhada. E que não caberá somente ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha (PT), fazer esse papel.
Como a CNN mostrou, Lula e Lira se encontraram no início da noite de domingo (21), no Palácio da Alvorada. A reunião ocorreu em meio à briga pública do presidente da Câmara com o ministro Padilha, responsável por essa articulação do governo com deputados e senadores.
Nos últimos dias, Lira aumentou as críticas ao trabalho do ministro-chefe da SRI, chamando Padilha de “incompetente” ao afirmar ainda que ele plantava notícias falsas sobre negociações parlamentares. Durante encontro com Lula, Lira voltou a reclamar de Padilha e ouviu do presidente que o problema de articulação será resolvido, mas não com a saída do ministro do cargo.
Auxiliares do presidente da Câmara viram nas falas de Lula nesta segunda que, a partir de agora, os demais ministros terão de se empenhar mais nas negociações com o Congresso. E, ainda, que o presidente irá acompanhar mais de perto o assunto, como Lira também teria pedido durante a conversa de domingo.
A preocupação do Planalto em resolver a situação como o Congresso ainda esta semana passa pelas pautas econômicas que deputados e senadores podem votar, complicando a sonhada meta fiscal zero de Haddad. Também haverá sessão conjunta do Congresso que pode derrubar o veto presidencial de R$ 5,6 bilhões no valor das emendas parlamentares de comissão.
Nesta segunda pela manhã, a CNN mostrou que o governo federal bloqueou qualquer repasse de emendas de comissão a deputados e senadores, o que gerou incômodo entre os parlamentares.
À tarde, em resposta às críticas, Padilha afirmou ter autorizado o pagamento de outras emendas, enquanto o líder do Governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), disse que está adiantado um acordo para recompor parte das emendas de comissão vetadas.