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    Jussara Soares
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    Jussara Soares

    Em Brasília desde 2018, está sempre de olho nos bastidores do poder. Em seus 20 anos de estrada, passou por O Globo, Estadão, Época, Veja SP e UOL

    Sem avanço no diálogo com evangélicos, Lula defende respeito à fé, mas reforça críticas a líderes “estridentes”

    De acordo com relatos à CNN, Lula disse que “o Deus do Malafaia não é o mesmo que o nosso, mas eu sei que o Deus do evangélico é”

    Sem conseguir avançar no diálogo com os evangélicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indica mudanças em sua estratégia para mais uma vez tentar melhorar a relação com o segmento religioso, que é base eleitoral de seu antecessor Jair Bolsonaro (PL).

    Segundo interlocutores do governo, o presidente quer demonstrar respeito aos evangélicos, mas não deixará de subir o tom contra lideranças religiosas consideradas “estridentes” e que têm uma relação simbiótica com Bolsonaro.

    Na reunião ministerial de segunda-feira (18), Lula chegou a citar diretamente o pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo e financiador do ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista em 25 de fevereiro.

    De acordo com relatos à CNN, Lula disse que “o Deus do Malafaia não é o mesmo que o nosso, mas eu sei que o Deus do evangélico é”.

    A fala foi feita em direção ao advogado-geral da União, Jorge Messias, que frequenta a Igreja Batista e é um interlocutor do governo com o grupo religioso.

    O presidente destacou ainda a necessidade de combater notícias falsas que circulam entre evangélicos e demonstrou resistência em fazer ato com religiosos.

    O que Lula quer é tirar a discussão do campo religioso e de costume, enfatizando que o governo toma medidas voltadas para a vida do cidadão, independentemente da fé de cada um.

    Ao abrir a primeira reunião de 2024 com os ministros, Lula criticou a instrumentalização política da religião, e defendeu o que definiu como liberdade para exercício da fé.

    “Eles [cidadãos] querem um país em que a religião não seja instrumento político de um partido político ou de um governo”, afirmou. “Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo nesse país.”

    Nesta terça-feira (19), Malafaia postou uma vídeo nas redes sociais em resposta a Lula. Disse que o presidente jamais terá o apoio de evangélicos.

    “Lula, nunca mais você vai conseguir enganar os evangélicos,a maioria dos cristãos, nunca mais vai conseguir se aproximar de nós, sabe por quê? Porque luz não se mistura com as trevas que você representa.”

    Em entrevista coletiva após a reunião, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa disse que “o presidente Lula quer se aproximar do povo brasileiro, das famílias e de todas as religiões.”

    “O que o presidente, como todos nós concordamos, é que a fé das pessoas, a crença das pessoas não pode ser usada na disputa política partidária, a religião e a crença é muito maior do que os partidos políticos, do que as disputas políticas e portanto assim devem ser colocadas e respeitadas as crenças religiosas das pessoas, foi isso que o presidente voltou a afirmar, sua crença e seus respeito por todas as religiões”, disse Costa.

    Em outro momento da fala aos jornalistas, o chefe da Casa Civil disse que o governo quer cuidar das famílias e que isso tem “sintonia com todas as religiões”. “Mais do que nunca as ações anunciadas foram voltadas para cuidar da família, quando o presidente divulga um programa de 1.200 creches ele ta cuidando da família, cuidando da criança, cuidando da mãe, quando ele anuncia quase 800 escolas em tempo integral ele está atendendo um pleito da mãe evangélica, da mãe católica, da mãe espírita, da mãe do candomblé, da mãe de todas as religiões”, disse Rui Costa.

    A avaliação de aliados do governo é que até aqui as ações do Palácio do Planalto para tentar atrair os evangélicos têm falhado, sobretudo, ao tentar entrar na seara religiosa, onde o bolsonarismo tem ampla vantagem.

    Em dezembro, o governo lançou em dezembro a campanha “O Brasil é Um Só Povo”. Nos comerciais, há trechos de vídeos em que atores comemoram as iniciativas do governo com frases típicas, por exemplo, do público evangélico, como “Ô, Glória”, “Graças a Deus” e “Graças alcançada, Senhor.”

    As peças publicitárias foram consideradas caricatas por parlamentares evangélicos.

    Pesquisa Genial/Quaest, divulgado no último dia, o governo Lula é visto como negativo por 48% dos evangélicos. Houve um aumento de 12 pontos percentuais se comparado ao levantamento de dezembro, quando o índice era de 36%.