FAB poderá buscar deportados dos EUA em Fortaleza
Governo estuda medida para evitar que brasileiros sejam algemados dentro do país


Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) poderá ser usado para buscar os brasileiros deportados dos Estados Unidos previstos para chegar nesta sexta-feira (7) em Fortaleza (CE). A medida está sendo avaliada pelo governo como uma das formas de acolhimento aos migrantes e uma decisão deverá ser tomada nesta quinta-feira (6).
De acordo com fontes envolvidas na logística, o uso da FAB para buscar os deportados em Fortaleza e trazê-los para Belo Horizonte (MG) — destino final dos voos de deportação — seria pontual e em caráter emergencial até que todos os pedidos feitos pelo Brasil sejam atendidos pelo governo americano. Cabe aos EUA arcar com os custos da operação de levar ao país de origem os migrantes expulsos.
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) em contato com a Embaixada dos Estados Unidos solicitou o fim de uma escala intermediária no Brasil para evitar que os deportados sejam algemados em território brasileiro, como ocorreu no voo que parou em Manaus no dia 24 de janeiro.
O atendimento ao pedido, porém, esbarra na autonomia do avião que já estava contratado pelo governo americano para trazer os brasileiros. A aeronave não tem capacidade de cumprir a rota até Belo Horizonte sem uma parada para reabastecimento.
Como alternativa para o voo de deportação desta sexta-feira (7), foi desenhada uma rota que inclui uma escala em um país do Caribe, provavelmente Porto Rico, e o destino final em Fortaleza.
Segundo a CNN apurou, as condições dos próximos voos seguirão em discussão. O pedido do governo brasileiro é que os Estados Unidos providenciem o desembarque no destino final em Belo Horizonte, local considerado de mais fácil acesso para o retorno dos deportados para suas residências.
Nas negociações com a embaixada americana, a diplomacia brasileira não se opõe ao uso de algemas durante a viagem, visto que a análise de risco para a segurança cabe aos responsáveis no voo. Porém, pede aviões em boas condições e tratamento digno.
Em 24 de janeiro, primeiro voo com deportados na gestão Trump, as autoridades brasileiras foram surpreendidas com o processo de algemar os imigrantes. Assim que pousou em Manaus (AM), o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, determinou a retirada dos itens.
O presidente Lula determinou que uma aeronave da FAB buscasse os brasileiros em Manaus e levasse para Belo Horizonte. A aeronave usada foi um KC-30, do Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte (2º/2º GT – Esquadrão Corsário).
Na ocasião, o Ministério da Justiça afirmou que a tentativa de manter o grupo algemado foi um “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.
Já o Ministério das Relações Exteriores (MRE) considerou “inaceitável” o episódio e diz que os brasileiros foram tratados de forma “degradante”. Segundo a autoridade brasileira, essa situação viola um acordo firmado com o país norte-americano em 2018.
“O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso”, dizia a nota.
O Itamaraty chamou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para pedir esclarecimentos sobre o tratamento dispensado aos brasileiros deportados. Depois disso, foi criado um grupo de trabalho para tratar dos voos de deportação.