Defesa dirá que Cid agiu contra golpe ao deixar Freire Gomes informado
Em delação, ex-ajudante de ordens relatou que avisava então comandante do Exército sobre incitadores
A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), argumentará que ele atuou contra um golpe de Estado ao manter o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, informado sobre incitadores que poderiam fazer o ex-presidente tomar uma medida para se manter no poder.
Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), disse que visitava a casa do então comandante do Exército, diariamente, para relatar as movimentações no Palácio do Alvorada.
O tenente-coronel revelou que Freire Gomes tinha preocupação de que Bolsonaro assinasse alguma medida para um golpe sem a ciência dele.
Nesta quinta-feira (20), Moraes liberou os áudios e vídeos da colaboração premiada de Mauro Cid. O material divulgado se refere aos depoimentos prestados pelo ex-ajudante de ordens ao ministro do STF.
“O general estava tão preocupado de o presidente assinar alguma coisa sem a ciência dele, dele ser surpreendido com alguma coisa, que toda noite, no final do dia, eu tinha que ir lá na casa dele, eu morava próximo dele no SMU (Setor Militar Urbano), e dava relato do que estava acontecendo”, contou Cid.
Diante de Moraes, Cid ainda afirmou que, às vezes, ligava ao longo do dia para o comandante do Exército quando Bolsonaro estava “reclamando muito” e dizia que tinha que “fazer alguma coisa.”
“E se tivesse alguma coisa do dia mais grave, eu ligava para ele (comandante do Exército). Tanto que, algumas vezes que a pessoa ia lá incentivar o presidente, o presidente ficava naquele né? ‘General, vem para cá que o presidente está reclamando muito: ‘tem que fazer alguma coisa…’ Aí o general vinha e dava uma assentada no pensamento do presidente”, relatou.
Mauro Cid revelou ainda que o então comandante do Exército cogitou punir o general Mário Fernandes, número dois da Secretaria-Geral da Presidência à época. O militar é apontado como um dos maiores incentivadores para que as Forças Armadas agissem para tentar uma suposta tentativa de golpe de Estado, em 2022, para impedir a posse de Lula.
“Inclusive, o próprio general Freire Gomes, se me lembro bem, me ligou desesperado quando soube que o general Mario estava indo lá [no Alvorada]. Ele disse: po*, Cid, não pode deixar ele ir aí… esse cara é maluco, tira ele daí”, completou Cid.
A defesa deverá sustentar que Mauro Cid jamais concordou com um plano golpista e deverá usar esses trechos como evidência da resistência dele a uma medida radical.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Mauro Cid por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.
A delação
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro assinou um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal em agosto de 2023. Na negociação, Cid pediu o perdão ou uma punição com pena abaixo de dois anos em troca de fornecer informações.
Se o pleito for atendido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Mauro Cid escapará da abertura de um processo de perda de posto e patente no Supremo Tribunal Militar (STM) e evitará sua expulsão da Força, mantendo também sua remuneração mesmo após passar para a reserva.
Ao firmar o acordo de delação com a Polícia Federal, em agosto de 2023, Cid pediu ainda a restituição de bens e valores apreendidos, a extensão dos benefícios para o pai, a esposa e a filha maior, no que for compatível, e a garantia da segurança do colaborador e de seus respectivos familiares.