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    Iuri Pitta
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    Iuri Pitta

    Jornalista, mestre em administração pública e governo e professor universitário. Atuou como repórter, editor e analista em coberturas eleitorais desde 2000

    Queda em aprovação por fala sobre Holocausto e menor otimismo na economia expõem baixa margem de erro para Lula

    Outro motivo para atenção no Palácio do Planalto são a retrospectiva e a perspectiva para a economia num intervalo de 12 meses

    Em ano eleitoral, políticos, jornalistas e eleitores sempre falam e ouvem a expressão “margem de erro”, explicação para o fato de que pesquisas de intenção de voto tem limitações, e os números devem ser lidos com ponderação.

    Quando as variações vão além desse intervalo, é o caso de prestar mais atenção para uma eventual tendência.

    A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (6) mostra mudanças significativas tanto na aprovação (queda de 3 pontos percentuais) quanto na desaprovação (alta de 3 pontos percentuais) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em comparação ao índice de dezembro – ou seja, além da margem de erro.

    Mais do que isso, essa perda de 6 pontos no saldo expõe o quão sensível está a opinião pública nacional e que o governo tem pouca margem para erros em suas atitudes.

    É verdade que os 2 mil entrevistados foram ouvidos em parte sob efeito da manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em resposta às investigações sobre uma suposta trama golpista no último ano de seu mandato – trata-se do mesmo levantamento que apontou que metade dos brasileiros considera justa uma eventual prisão do ex-mandatário.

    Feita a ponderação, uma recomendação muitas vezes esquecida quando se trata de pesquisas de opinião pública, são inegáveis os sinais de alerta para Lula.

    Já é sabido que a fala na qual comparou a ação militar de Israel em Gaza ao Holocausto nazista, mesmo sem o uso dessa palavra, causou estragos na imagem do ex-presidente – 6 em cada 10 brasileiros consideraram um exagero, o dobro do que não viram excesso na declaração.

    Foi um erro não pela tragédia humanitária vivida pelos palestinos, que é real e deve ser denunciada, mas principalmente por não se notar a mesma indignação do petista em outras injustiças mundo afora, como a invasão russa à Ucrânia.

    O agravante político da comparação inadequada é que a declaração deu argumento para fortalecer a rejeição a Lula entre o segmento evangélico, que representa mais de 30% do eleitorado e registrou as pioras mais intensas nas avaliações do governo, segundo a Genial/Quaest.

    Se Lula realmente busca alguma ponte com esse público, a declaração sobre o Holocausto derrubou quase todos os pilares em construção.

    Ainda é a economia…

    Outro motivo para atenção no Palácio do Planalto são a retrospectiva e a perspectiva para a economia num intervalo de 12 meses.

    Em outras palavras, é a primeira vez que a Genial/Quaest ouve os brasileiros sobre um ano inteiro de gestão Lula, e a série histórica registra o pico de percepção de piora, com 38% – o maior índice havia sido registrado em abril, com 34%. Só 1 em 4 eleitores dizem ter percebido melhoras na economia nos últimos 12 meses.

    Ainda há saldo positivo no otimismo dos brasileiros para o próximo ano: 46% acreditam que a economia vai melhorar, 15 pontos percentuais a mais do que os 31% pessimistas.

    O problema é que até entre quem votou em Lula no segundo turno de 2022 o otimismo está no menor patamar (69%, ante 86% um ano atrás), assim como entre os que votaram branco, anularam voto ou nem sequer foram votar naquele ano (44%, ante pico de 59% em fevereiro de 2023) – grupo que representa 22% do eleitorado.

    Mais um fator a ser considerado por aqueles que devem ser vistos como os principais assessores de qualquer governo ou posição de comando – os que podem dizer ao chefe que ele errou – é cotejar os indicadores do governo aos relacionados à situação político-jurídica de Bolsonaro.

    Há um saldo de 14 pontos percentuais negativos quando se questionam os brasileiros se o ex-presidente está sofrendo uma perseguição (39% dizem sim, 53% dizem não) e de 11 pontos positivos em relação à decisão de torná-lo inelegível (51% viram acerto do Tribunal Superior Eleitoral e 40%, erro), mesma proporção dos que consideram que seria justo Bolsonaro ser preso e dos que avaliariam como injusto.

    Esse é o público potencial que Lula pode atingir quando não erra: foram 15 pontos positivos de saldo no auge da popularidade, em agosto, e 11 no fim do ano passado.
    Governar para quais pessoas

    Por fim, a Genial/Quaest perguntou se o governo Lula se preocupa com pessoas como o entrevistado, e o resultado foi um empate numérico de 48% entre as respostas “sim” e “não”.

    No detalhamento, são os residentes no Nordeste, os que ganham até 2 salários mínimos, os pretos e os católicos que majoritariamente responderam afirmativamente à pergunta. Não surpreende que só 1 em 3 evangélicos pensem dessa forma, e que sejam minoritários os moradores do Sul e do Sudeste, os brancos e os que ganham de 2 a 5 salários mínimos que se posicionam assim.

    Em um ano de eleições municipais que o governo Lula e o PT veem como prévia do que pode ocorrer em 2026, os dados da primeira pesquisa Genial/Quaest reforçam a importância de se entender o que significa e qual o tamanho da margem de erro.