Iuri Pitta

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Iuri Pitta

Jornalista, mestre em administração pública e governo e professor universitário. Atuou como repórter, editor e analista em coberturas eleitorais desde 2000

Governo aposta em articulação de Wolney para conter crise política do INSS

Novo ministro da Previdência é tido como habilidoso no diálogo político e visto como capaz de evitar avanço de ofensiva da oposição
Homenagem ao Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Dep. Wolney Queiroz PDT - PE
Homenagem ao Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Dep. Wolney Queiroz PDT - PE  • Marina Ramos/Câmara dos Deputados
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A capacidade de diálogo e articulação do ex-deputado federal Wolney Queiroz pesaram na escolha do nome dele para substituir Carlos Lupi como ministro da Previdência Social, anunciada nesta sexta-feira (2) pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Palácio do Planalto aposta nesses atributos para tentar conter o potencial de crise política da fraude bilionária no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e, com isso, evitar mais danos à imagem já desgastada do presidente perante a opinião pública.

Dados de pesquisa AtlasIntel publicados pela CNN nessa quinta-feira (1º) mostraram que 85% dos entrevistados defendiam a saída de Lupi da pasta, ainda que o agora ministro demissionário não seja alvo direto das investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) que detectaram descontos não autorizados em aposentadorias e pensões de milhões de beneficiários do INSS, ocorridos entre 2019 e 2024.

Wolney Queiroz era secretário-executivo do ministério na gestão Lupi, o equivalente a número 2 da pasta. Foi deputado pela primeira vez em 1995 e ocupou posição de liderança do PDT e da oposição ao governo Jair Bolsonaro (PL).

Essa experiência parlamentar e capacidade de articulação é vista como fundamental para enfrentar a crise no INSS. Enquanto o Palácio do Planalto conta com o novo presidente do órgão, Gilberto Waller Jr., para as ações administrativas que possam fechar os ralos de descontos indevidos nos pagamentos e que levem ao ressarcimento dos beneficiários lesados pelo esquema criminoso, ficará a cargo de Wolney a atuação em resposta ao apetite da oposição, que quer instalar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso para apurar o caso.

Efeito Ciro Gomes

No PDT, a escolha de Wolney Queiroz ajudaria a conter os ânimos da ala mais próxima do ex-ministro Ciro Gomes, que tem sido crítico contundente do governo Lula. Pelo menos desde o início da semana, o ex-candidato ao Palácio do Planalto acompanhou o desgaste de Lupi como uma oportunidade para se recolocar como opção para as eleições de 2026.

Aliados de Ciro viam a saída de Lupi da Previdência e um eventual desembarque do PDT do governo como senha para reforçar uma nova candidatura presidencial. Para evitar esse tipo de risco, prevaleceu o acordo entre a cúpula do partido e o governo Lula pela indicação de Wolney Queiroz.

Integrantes do PDT lembram que a sigla é uma das mais fiéis da base governista, mas a queixa é de que nem o Planalto, nem o PT, reconheceriam isso. Daí, as ameaças de deixar o apoio a Lula caso Lupi fosse demitido - a costura foi feita para que o próprio pedisse demissão, deixando claro que não é alvo das investigações.