Análise: Delação de Cid sustenta a argumentação da PGR contra Bolsonaro
Segundo a Procuradoria-Geral da República, a delação de Mauro Cid destaca que Bolsonaro "sempre dava esperanças que algo fosse acontecer para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe"
A denúncia apresentada nesta terça-feira (18) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe ganha força com os detalhes da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.
O documento revela elementos que corroboram as acusações de tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Segundo a denúncia, Bolsonaro “deliberadamente estimulava a expectativa da população a fim de provocar uma ação que justificasse a intervenção das Forças Armadas”.
O procurador Paulo Gonet cita diretamente a colaboração de Cid para embasar essa afirmação, estabelecendo uma conexão entre as ações do ex-presidente e as manifestações em frente aos quartéis do Exército.
Conexão com os atos de 8 de janeiro
A delação de Mauro Cid destaca que Bolsonaro “sempre dava esperanças que algo fosse acontecer para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe”.
Este teria sido um dos motivos pelos quais o então presidente não desmobilizou os manifestantes que se concentravam em frente às unidades militares, inclusive no quartel-general do Exército em Brasília.
É importante ressaltar que foi deste acampamento que partiram os manifestantes que, em 8 de janeiro de 2023, invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, clamando por intervenção militar.
O papel de Braga Netto
A PGR também menciona a “relevante participação” do general Walter Souza Braga Netto na incitação dos movimentos populares.
Segundo Cid, Braga Netto era o responsável por manter o contato entre os manifestantes acampados e o presidente da República, atuando como um intermediário crucial nesse processo.
Estas revelações, contidas nas páginas finais da denúncia (248 e 249), estabelecem uma linha direta de comunicação entre Bolsonaro, Braga Netto e os manifestantes, reforçando as acusações de organização e estímulo a atos antidemocráticos que culminaram nos eventos de 8 de janeiro.