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    Fernando Nakagawa
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    Fernando Nakagawa

    Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri

    Taxar bilionários é pop, mas será que a realidade política permite?

    A proposta brasileira para taxar bilionários tem mérito por tentar resolver uma grande distorção tributária, mas conseguir avançar não é nada fácil

    O Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, recebe a primeira reunião financeira do G20 no Brasil. As rampas sinuosas e as curvas não deixam dúvidas que o edifício icônico foi desenhado por Oscar Niemeyer.

    Ontem, esse edifício contou com um seletíssimo grupo de visitantes: ministros de economia e presidentes de bancos centrais das 20 maiores economias do mundo. Logo cedo, o grupo ouviu palavras duras de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, sobre bilionários.

    “Precisamos admitir que ainda precisamos fazer com que os bilionários do mundo paguem sua justa contribuição em impostos”, disse. O discurso na abertura do G20 financeiro em São Paulo ganhou as manchetes de portais, jornais, rádios e canais de televisão em minutos.

    Defender a justiça tributária em um país desigual como o Brasil é um catalisador de apoio político e simpatia do eleitorado. Taxar bilionários é bossa. É tão instigante quanto as linhas sinuosas do projeto modernista de Niemeyer.

    A proposta brasileira para taxar bilionários tem mérito por tentar resolver uma grande distorção tributária vista em todo o planeta. Conseguir avançar, porém, não é fácil.

    A começar pelo nosso quintal. A simples citação ao plano de uma reforma da renda e do patrimônio gera calafrios em parte do Congresso Nacional. Deputados e senadores não escondem a contrariedade ao plano de aumentar o imposto sobre a renda, ganhos de capital e herança dos bilionários.

    Nos Estados Unidos, não é diferente. O presidente Joe Biden quer avançar com o aumento da taxação sobre os super ricos, mas o Congresso não. A bancada republicana é contra e até alguns democratas não gostam da ideia.

    O Congresso norte-americano, aliás, é tão refratário a elevar tributos que, atualmente, há um grande risco de retrocesso em outro assunto polêmico e parecido: a taxação global de grandes empresas de tecnologia.

    Apesar do acordo internacional liderado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para adoção de regras internacionais para o setor, não são otimistas as perspectivas de aprovação do tema pelo Congresso dos EUA.

    Nas reuniões do G20, alguns negociadores dizem temer que se os EUA — sede das maiores big techs do planeta — não aprovarem o tema, o acordo já assinado poderá ir por água abaixo.

    Esse fracasso seria um duro golpe para as intenções brasileiras que semelhantes, mas com foco nos bilionários.

    O projeto brasileiro tem tudo para ser vistoso como o modernismo de Niemeyer. A realidade política, contudo, poderá mudar tudo. O risco é acabar com linhas retas e formas geométricas que marcaram um colega do arquiteto carioca.

    Affonso Eduardo Reidy nasceu em Paris, mas viveu na capital fluminense e assinou um prédio icônico do Rio de Janeiro com forma simples, estrutura pesada e muito concreto bruto: a sede do Museu de Arte Moderna, o MAM.

    Lá, devem se encontrar os chefes de Estado na última reunião do G20 no Brasil, em novembro. E, talvez, assinem um comunicado final muito menos sexy e muito mais realista.