Análise: “Trumponomics” e os sinais de alerta do mercado
Economistas, especialistas e publicações respeitadas sugerem que políticas econômicas de Trump representam risco para a economia americana


Os sinais de alerta estão soando na economia dos Estados Unidos. Com quedas recentes significativas nos mercados de ações – o S&P 500 caindo 6,4%, o Nasdaq Composite 11% e o Dow Jones Industrial Average 3,6% – um consenso crescente entre economistas, especialistas e publicações respeitadas sugere que as políticas econômicas da administração Trump representam um risco substancial para a economia americana.
Publicações respeitadas como o Financial Times (“The US economy is heading for recession”) e The Economist (“Donald Trump’s economic delusions are already hurting America”) têm destacado sistematicamente estas preocupações nas últimas semanas. Aqui, compilamos análises publicadas por três importantes instituições internacionais sobre as bases para tais apreensões.
De acordo com o Center for American Progress, em seu recente artigo “Trump Is Sending the Economy in the Wrong Direction”, a administração Trump está implementando políticas que tendem a reduzir o crescimento econômico e aumentar a inflação. O think tank destaca como o índice de incerteza econômica disparou, prejudicando significativamente a confiança tanto de consumidores quanto de empresas para planejar, investir e gastar.
Um dos pontos centrais da análise é o impacto negativo dos tarifários elevados sobre importações de países como México e Canadá, que estão elevando os preços para os consumidores americanos. As empresas, por sua vez, repassam estes custos mais altos, afetando itens essenciais e produtos de consumo duráveis. O Center for American Progress também aponta para quedas significativas na confiança do consumidor, evidenciadas por indicadores como o índice de confiança do consumidor do Conference Board e o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan.
Esta incerteza e as expectativas de aumento de preços estão fazendo com que os consumidores adiem compras importantes. Quanto ao mercado de trabalho, apesar de haver crescimento contínuo no emprego, existem, segundo eles, sinais preocupantes de enfraquecimento, com aumento de contratações em tempo parcial e crescimento no número de demissões e afastamentos de funcionários federais.
O Chatham House, em seu texto “The biggest economic risk from Donald Trump’s presidency is a loss of confidence in US governance”, por sua vez, apresenta uma visão complementar sobre os riscos econômicos. O instituto britânico descreve a plataforma econômica da administração Trump como radical, incluindo promessas de cortes de impostos que gerariam um estímulo de US$ 8–10 trilhões, propostas de tarifas de 10–20% para parceiros comerciais e até 60% para a China, além de medidas de deportação em massa que poderiam afetar até 11 milhões de imigrantes não documentados.
Um ponto crucial levantado pelo Chatham House refere-se às limitações orçamentárias e ao aumento da dívida pública. Aproximadamente 80% das despesas federais são obrigatórias (incluindo Previdência, Medicare e defesa), o que restringe cortes significativos. Há uma expectativa de aumento da relação dívida/PIB, ainda que sem impactos de curto prazo devido à forte demanda internacional por ativos dos Estados Unidos.
A organização alerta também para os riscos da desregulamentação, especialmente a potencial reversão de regulações financeiras pós-crise e de medidas pró-clima, com possíveis implicações negativas para a liderança tecnológica dos Estados Unidos e para a regulação de grandes empresas de tecnologia. Talvez mais alarmante seja a análise sobre a politização das instituições governamentais, com o risco de enfraquecimento da independência do Departamento de Justiça e dos mecanismos de aplicação do Direito, além da redução do funcionalismo público e aumento da influência de interesses privados.
Complementando estas perspectivas, o artigo “Trump’s Economy Is Flashing Red” da Foreign Policy foca no impacto das políticas de Trump sobre a inflação. O material discute como as medidas adotadas pela administração têm influenciado a alta inflação e analisa os fatores que elevam os custos para consumidores e empresas.
A Foreign Policy também aborda a desaceleração do crescimento econômico sob as políticas de Trump, fazendo comparações com expectativas e projeções de crescimento prévias. No que diz respeito ao mercado de trabalho, a publicação analisa as oscilações no emprego e o comportamento do desemprego no contexto das medidas governamentais.
Um ponto crucial na análise da Foreign Policy é a relação entre a política econômica e a confiança dos investidores, debatendo como a incerteza gerada pelas ações do governo pode afetar decisões de investimento e discutindo o clima de negócios e as expectativas de mercado.
Quando analisamos tantas perspectivas complementares, o que vemos é convergência alarmante de diagnósticos: as “Trumponomics” estão criando uma tempestade perfeita para a economia americana. Os mercados financeiros, tradicionalmente considerados como indicadores antecipados, já estão enviando sinais de alerta. O que está em jogo, porém, vai além de flutuações de curto prazo. O verdadeiro risco é a erosão gradual da confiança global em um modelo construído ao longo de décadas como um farol de estabilidade e previsibilidade.
As consequências de tal erosão podem se estender muito além da atual administração, redesenhando o papel dos Estados Unidos no cenário econômico global por gerações. A ver.