Petrobras tinha espaço para pagar dividendos extras, avalia mercado
Nas últimas semanas havia se criado uma expectativa, principalmente dos investidores institucionais estrangeiros (bancos e fundos de investimento), de que a Petrobras poderia pagar um dividendo extraordinário
Mesmo com o lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023, o que representou uma queda de 33,8% em relação ao ano anterior, a Petrobras teve o segundo melhor resultado anual da história e teria caixa suficiente para distribuir bons dividendos extras aos acionistas, na visão de investidores.
O que a estatal não tem mais, segundo a percepção de analistas ouvidos pela CNN, é uma gestão que priorize esses pagamentos, o que gerou frustração para o mercado.
Nas últimas semanas havia se criado uma expectativa, principalmente dos investidores institucionais estrangeiros (bancos e fundos de investimento), de que a Petrobras poderia pagar um dividendo extraordinário.
Na avaliação do Frederico Nobre, líder da área de análise de ações da Warren Investimentos, a estatal está relativamente saudável financeiramente e poderia ter pago esse dividendo extra. Mas optou por indicar o pagamento apenas do valor equivalente, que consta no estatuto da empresa. Neste caso, chega a R$ 14,2 bilhões.
O analista lembra ainda que não foi uma quebra de regra da Petrobras, já que a mesma não avisou que faria pagamento extraordinário, portanto isso não deveria gerar uma quebra de confiança.
Para este blog, o economista, Adriano Pires, disse que já esperava o lucro da estatal porque o petróleo continua com o preço bastante elevado, em torno de US$ 80 o barril. O petróleo em patamares mais altos significa lucro alto para as petroleiras.
Mas essa decisão do conselho da petrolífera sobre o pagamento dos dividendos ele vê como um problema. Adriano acredita que a Petrobras realmente decidiu adotar em 2024 a tese que o presidente Lula vem defendendo desde as eleições: “abrasileirar os preços, tornar a estatal um instrumento de políticas econômicas e que não necessariamente precisa ter lucro”.
Com isso, o economista acredita que a Petrobras está reencontrando o velho caminho do PT, voltando a trabalhar para o governo e não mais para o acionista.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse em carta publicada junto ao balanço divulgado pela companhia na noite desta quinta-feira, 7, que os dividendos de R$ 72,4 bilhões, referentes ao exercício de 2023 “é um valor que se reverte para a sociedade brasileira”.
A nota da companhia diz ainda que “a aprovação do dividendo é compatível com a sustentabilidade financeira da empresa a está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural”.
Na semana passada, declarações do Jean Paul Prates sobre postura mais conservadora em relação à remuneração aos acionistas já tinham feito a Petrobras perder cerca de R$ 30 bilhões em valor de mercado.
O atual preço da companhia, a nova postura em relação aos dividendos, com pagamento de 45% do fluxo de caixa livre e não mais 60%, e os planos de investimentos da estatal, são fatores que diminuem o apetite dos investidores, na visão de Frederico. O analista também reforça que para a Warren Investimentos não faz mais muito sentido estar posicionado no papel. Neste caso, a corretora prefere outros nomes do setor no Brasil.
Ações rebaixadas
O Bradesco BBI diz que o resultado não vê mais o ‘dividend yield’ da Petrobras como atraente em comparação com seus pares globais. Por isso, rebaixou a recomendação do ADR da empresa para “neutra” e reduziu o preço-alvo para 17 dólares (41 por ação PN) de 20 dólares (48 reais).
Analistas do Santander também cortaram a recomendação das ações da estatal para “neutra”, assim como o preço-alvo em 2024 para 18 dólares/ADR (47 reais/ação).
Eles acreditam que a falta de dividendos extraordinários manda sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente por causa do saldo de 18 bilhões de dólares em caixa no final de 2023.