Análise: Lula acha atalho para criticar PL do aborto, mas oposição dobra aposta
De volta ao Brasil, missão do governo é retardar projeto no Congresso
Após ser aprovado em 23 segundos o regime de urgência do PL do Aborto na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou dois dias para encontrar um atalho seguro e assim cruzar o pantanoso terreno de discussões do Projeto de Lei que quer endurecer a pena para mulheres que interrompem a gravidez.
A primeira-dama Janja da Silva foi quem apontou a Lula um caminho relativamente seguro para que ele pudesse criticar publicamente o Projeto de Lei. Apesar de receoso com os impactos em sua imagem, Lula foi convencido. Na Itália, onde cumpria agenda internacional, ele apontou o risco da institucionalização de um disparate: a mulher que engravidar após ser estuprada e praticar o aborto decorridas 22 semanas de gestação pode ter pena mais alta (até 20 anos) do que a do seu próprio estuprador (10 anos). Não sem antes frisar ser “pessoalmente contra” o aborto.
Por isso, a reboque, ministros de Estado e aliados presidenciais seguiram pela mesma trilha.
A oposição reagiu. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um dos autores da proposta, sentiu o baque, mas dobrou a aposta. E em uma rede social desafiou Lula: “É simples, a relatora pode incluir, mesmo sendo matéria estranha ao texto o aumento da pena para estuprador para 30 anos, fica resolvido, presidente. Vamos ter o seu apoio já que você é contra o aborto?”.
Missão é conter tramitação no Congresso
Se aliados de Lula esperaram o sinal do presidente até para decidirem como pensam e, consequentemente, como deveriam se expressar publicamente, somente agora, com aval de Lula, é que as lideranças estão saindo a campo para tentar frear a tramitação do tema na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Querem convencer o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a atrasar a escolha da relatoria do texto. E, mais ainda, não pautar o assunto ao menos até as eleições municipais, realizadas em outubro.
Após atuação nos bastidores, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já se comprometeu publicamente em não pautar urgência para a proposta.