General Mario Fernandes disse ao Congresso que ameaça terrorista estava próxima do Brasil
Militar da reserva, preso nesta semana por participação em suposto plano para matar autoridades, fez apresentação na Câmara sobre terrorismo em 2019
O general Mario Fernandes, preso nesta semana sob a acusação de colaborar em um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, disse em 2019, durante uma sessão na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que ataques terroristas não são provocados, mas planejados, e que a ameaça terrorista estava próxima de ocorrer no Brasil.
“Para doutores e mestrados, eu não vou falar aqui da história do terrorismo, dessa ameaça que está presente em todo o mundo, mas eu quero lembrar que ela está cada vez mais próxima do Estado brasileiro, inclusive no ambiente regional, no nosso subcontinente. Esta ameaça está bem próxima, hein? (…) Hoje nós estamos nos caracterizando como verdadeiros alvos. Repito: quando é que nós passaremos a ser alvos?”, disse.
Ele participava na ocasião, como representante do Exército, de uma audiência pública para debater o projeto de lei 1.595 de 2019, elaborado pelo então líder do governo Jair Bolsonaro (PL) na Câmara, deputado Major Vitor Hugo, justamente para reforçar as ações de contraterrorismo no Brasil. A proposta tinha o apoio do Exército, mas nunca avançou.
Fernandes foi preso nesta semana sob a suspeita de ser um dos artífices do plano para matar Lula, Alckmin e Moraes.
Na mesma audiência na Câmara, ele disse que ataques terroristas “não são provocados, são planejados”.
“Os ataques não são provocados, eles são planejados. Então, o levantamento da inteligência, a modularização daquela célula, a sua esquematização em rede, tudo isso vai ser levantado, e com base jurídica, com autorização jurídica, como bem disse o delegado. Nada vai ser executado como viés proativo ou reativo, sem uma autorização judicial para que aquilo seja executado”, afirmou.
“A publicidade máxima com risco mínimo que a célula terrorista vai visar; uso da surpresa para evitar medidas contraterroristas. Tudo isso visando degradar as capacidades de reação ou de prevenção do Estado”, acrescentou.
Na época, ele era general de brigada e integrava a Brigada de Operações Especiais sediada em Goiânia-GO.
Fernandes deixou ao Congresso a apresentação que preparou para a audiência. O documento, intitulado “Proatividade e Prevenção: para evitar o combate, o gerenciamento de crises e o controle de danos causados por atos terroristas”, tem 62 páginas e dizia que a Força de Operações Especiais do Exército era um “vetor de projeção de poder e dissuasão” e de “contraterrorismo”.
É esse agrupamento do Exército, chamado de “kids pretos”, que tinha boa parte dos integrantes envolvidos na trama golpista, segundo a Polícia Federal.
Em um dos frames, ele coloca uma imagem do atentado a faca ao então candidato Jair Bolsonaro em Juiz de Fora durante a campanha presidencial de 2018.
A imagem trata do risco no país de “Lobos Solitários, Grupos Terroristas, Manifestações Sociais Violentas, Atiradores (Curta, Média e Longa distância) e Carros-BOMBA”.
Ao longo da apresentação, Fernandes traçou um quadro geral da história do terrorismo desde as Guerras Púnicas entre Roma e Cartago entre 272 e 265 a.c. até o que chama de “neoterrorismo”.
“O Terrorismo Contemporâneo é transnacional, caracterizado não apenas pela ameaça internacional, mas pela descentralização de organizações terroristas em diferentes países, isto é, por sua presença global, sem levar em conta limites fronteiriços”, diz a apresentação.
No documento, o general critica a legislação brasileira que, segundo ele, “é RESTRITIVA ao emprego, entre outros aspectos, de Tropas de Operações Especiais das Forças Armadas, em medidas de contraterrorismo proativo”.
Afirmou ainda que “para o Gerenciamento de Crises e o Controle de Danos, no caso de um Atentado Terrorista, partiremos, no mínimo, com MUITAS PERDAS humanas!”