Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Caio Junqueira
    Blog

    Caio Junqueira

    Formado em Direito e Jornalismo, cobre política há 20 anos, 10 deles em Brasília cobrindo os 3 Poderes. Passou por Folha, Valor, Estadão e Crusoé

    Caso Marielle amplia tensão entre Braga Netto e Cúpula do Exército

    Ex-interventor federal atribuiu ao general Richard Nunes a responsabilidade pela nomeação do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, preso no domingo (24)

    A nota de Braga Neto atribuindo ao general Richard Nunes responsabilidade na nomeação do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa, preso no domingo (24), ampliou a já tensa relação entre ele e a cúpula do Exército.

    A nota diz que “durante o período da Intervenção Federal na área da segurança pública no estado do Rio de Janeiro, em 2018, a Polícia Civil era diretamente subordinada à Secretaria de Segurança Pública” e que “a seleção e indicação para nomeações eram feitas, exclusivamente, pelo então Secretário de Segurança Pública, assim como ocorria nas outras secretarias subordinadas ao Gabinete de Intervenção Federal, como a de Defesa Civil e Penitenciária”.

    Na prática, a nota diz que Rivaldo Barbosa foi responsabilidade do general Richard Nunes, então secretário de Segurança Pública.

    Hoje, Nunes não é só o atual Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, um dos cargos mais relevantes na hierarquia interna da Força, como é um dos generais mais próximos do atual comandante, general Tomás Paiva, e um dos cotados para futuramente assumir o comando do Exército.

    Embora tivesse durante a intervenção no Rio de Janeiro boa relação com Braga Neto, durante o governo Bolsonaro ela piorou e se extinguiu por completo no governo Lula.

    Nunes foi virou um dos principais assessores do general Edson Pujol, o primeiro comandante do Exército de Jair Bolsonaro. Pujol entregou o cargo no dia 29 de março de 2021 junto com os comandantes da Aeronáutica e da Marinha, após Bolsonaro demitir o ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Todos eram contrários a um desejo do então presidente: de aproximar as forças do Palácio do Planalto.

    Braga Neto então assumiu no lugar de Fernando Azevedo com o intuito de aproximar o Exército do governo. Mas encontrou resistência em parte dos generais do Alto Comando na época, dentre eles Richard Nunes.

    O caso mais significativo na sequência foi quando Eduardo Pazuello, já ex-ministro da Saúde, mas ainda um militar da ativa, subiu em um palanque no Rio em uma atividade política de Bolsonaro. Nunes e outros generais defenderam punição a ele, mas acabou prevalecendo o desejo do presidente e Pazuello não foi punido.

    O tensionamento evoluiu e teve seu auge após a vitória de Lula. Richard Nunes foi ao lado de Tomás Paiva e dos também generais Valério Stumpf, Freire Gomes e Amin Naves os que lideraram a chamada ala “legalista” do Exército após a eleição de Lula, que defenderam internamente a posse do eleito. E por isso viraram alvo de bolsonaristas que defendiam que a Força impedisse a posse do petista.

    Em um artigo interno após o 8 de janeiro, Nunes escreveu que “a excessiva polarização da sociedade e a atuação dos extremos do espectro ideológico no ambiente informacional têm gerado visões radicais, resultando num círculo vicioso de intolerância e de absoluta ausência de diálogo”.

    “Essa situação é inaceitável aos membros de uma instituição apartidária, que se orgulha de oferecer oportunidades a todos os brasileiros, sem distinção de classe social, raça, gênero e credo. O inconformismo com a tradicional postura legalista e de neutralidade do Exército tem dado ensejo a insultos a camaradas de longa data, ataques a reputações típicos de regimes totalitários, ‘vazamentos’ de supostas informações, divulgação de memes difamatórios, tudo para tentar atingir a coesão da Força, em flagrante traição ao sacrossanto respeito à hierarquia e à disciplina”, completou.

    Braga Neto e oficiais da ativa e da reserva eram alvos do artigo. O próprio relatório da Polícia Federal na investigação da trama golpista apontava que Braga Neto instigou oficiais a liderarem uma campanha contra eles.

    A cúpula militar reagiu internamente. Como revelou a CNN, Braga Neto deve perder a patente de general.

    Agora, Braga Neto aponta que é de Nunes a responsabilidade pela nomeação do que agora se sabe foi quem acobertou os mandantes do assassinato.