Análise: Foto melhora, mas caminho para Bolsonaro está em Brasília
Os líderes na Câmara do Republicanos, de Tarcísio de Freitas, do PSD, de Gilberto Kassab e do PP, de Ciro Nogueira, ainda não assinaram o requerimento de urgência para que Motta paute o projeto da anistia


Jair Bolsonaro conseguiu uma foto na Paulista melhor do que a de Copacabana em março, mas ainda assim está em Brasília a dificuldade maior para fazer com que o projeto da anistia aos condenados do 8 de janeiro evolua.
E não só por parte do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que até agora não mostrou nenhuma intenção de pautar o projeto, mas dos próprios partidos do Centrão que comandam o Congresso e foram eixo de sustentação do próprio governo Bolsonaro.
Basta ver que os líderes na Câmara do Republicanos, de Tarcísio de Freitas, do PSD, de Gilberto Kassab e do PP, de Ciro Nogueira, ainda não assinaram o requerimento de urgência para que Motta paute o projeto.
Essa resistência decorre de um cálculo político simples. A agenda do PL da anistia ainda não furou a bolha do bolsonarismo, como comprovado pela pesquisa Genial/Qaest deste domingo. Os números apontam que a maioria dos brasileiros ainda é contrária ao projeto.
Além disso, esses três partidos que poderiam impulsionar com seus apoios a proposta na Câmara integram a base aliada do governo Lula, com ministérios bilionários em suas mãos. Como o cenário de 2026 é imprevisível, os partidos consideram que deixar hoje a digital a favor da proposta mais lhes prejudica do que lhes favorece politicamente. Há também o receio de se indisporem com o STF.
Avaliam que o caminho é abraçar, neste momento, agendas que não dividam o país e focar em pautas mais populares, como o debate da revisão da tabela de isenção do Imposto de Renda, ou necessárias, como medidas para reagir ao tarifaço de Donald Trump.
Nem mesmo a presença dos quatro governadores de direita presidenciáveis na Paulista é capaz de reverter este cenário no Congresso. Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior estiveram ali porque pela importância do gesto, caso tenham reais pretensões de um dia chegarem ao Palácio do Planalto.
O eleitor bolsonarista é engajado e não tolera traições, haja vista o ostracismo político em que caíram os que assim foram considerados por este grupo político. De Carla Zambelli a Santos Cruz.
Logo, esses presidenciáveis sabem que precisam defender a anistia ao 8 de janeiro, criticar o STF e, principalmente, estar ao lado de Jair Bolsonaro no momento em que as chances de ele encerrar o ano na prisão crescem. Nenhum deles irá muito longe se não rezar na cartilha bolsonarista, ainda que, apesar de todo bolsonarista ser de direita, nem todo mundo de direita é bolsonarista. Mas o público do ex-presidente é fiel e determinante em uma eleição.
Claro que governadores desse porte ajudam, mas além de seus interesses pessoais, por si só, não têm poder de definir o jogo. Assim como é difícil imaginar que um Tribunal Superior Eleitoral comandando por ministros nomeados por Bolsonaro seja também capaz de reverter a real anistia que o ex-presidente busca, a eleitoral.
Bolsonaro sugeriu isso em seu discurso hoje ao mencionar esperar isenção do TSE em 2026. Nunes Marques e André Mendonça serão sim presidente e vice da corte em 2026, mas serão dois potenciais votos a favor em um colegiado de sete. Desses, um será Dias Toffoli e outros dois virão da advocacia e serão nomeados por Lula. O colegiado terá ainda dois ministros do Superior Tribunal de Justiça, Atonnio Carlos Ferreira e Villas Bôas Cueva.
Assim como também é difícil imaginar que, como mencionou Bolsonaro, espera ajuda de fora. Trumpismo e bolsonarismo, como mostrou a CNN, estão cada vez mais próximos e é bem provável que parta dos Estados Unidos nas próximas semanas algum tipo de punição a Alexandre de Moraes. Mas não é crível que a administração americana consiga interferir em processo penal e eleitoral conduzido pelo STF e pelo TSE.
Isso posto, o que resta a Bolsonaro? A alternativa viável é negociar seu capital político de antemão, retirar sua candidatura e direcionar apoio seu e do seu eleitorado a um nome da direita em troca de um induto futuro, algo que seu própio entorno cogita, como já mostrou a CNN. Isso passa por Brasília. Mas Bolsonaro ainda prefere um pacto com as ruas do que com os gabinetes. Não deve dar certo.