Aliados defendem mea culpa de Bolsonaro para se livrar de eventual prisão
Ideia que vem sendo ventilada é que ex-presidente module sua posição sobre os ataques de 8 de janeiro
Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) têm defendido nos bastidores que ele faça um gesto em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de pelo menos frear o animus da corte de condená-lo à prisão.
Uma ideia que vem sendo ventilada é que ele module sua posição sobre os ataques de 8 de janeiro.
A posição dele tem variações, indo de acusar a esquerda por uma “armadilha” a apontar a omissão do governo Lula na prevenção do episódio. No aspecto jurídico, critica as penas altas e pede anistia aos condenados.
O que alguns interlocutores têm dito é que é preciso um aceno no sentido de reconhecer com ênfase o erro dos ataques e, por que não, o erro na estratégia de seu governo de tensionar com a Corte, fator considerado crucial para que a sede do Judiciário fosse o poder mais atacado no 8 de janeiro.
O assunto está perto de Bolsonaro, mas há dificuldades para avançar.
Uma dificuldade é o próprio ex-presidente, que já teria ouvido a ideia, mas não se manifestou. Quem o conhece diz que um recuo dele tiraria a imagem de mito tão idolatrada até hoje por seus seguidores.
Outra é que para ela ir à frente seria necessária uma operação política mais ampla que demandaria que gente de peso na política que cresceu politicamente no seu governo abraçasse a ideia e fizesse incursões junto a ministros do STF no sentido de abrir um distensionamento.
Esta tropa, porém, parece não estar disposta a isso. Parte dela se afastou de Bolsonaro, parte dela prefere o silêncio.
O que sobrou está na linha do confronto — e esse é um terceiro obstáculo. Nesta semana isso ficou claro quando uma comitiva de parlamentares bolsonaristas apresentou uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), acusando o STF de promover um “tribunal de exceção” contra os réus do 8 de janeiro. Nas 61 páginas da petição, o ministro do STF Alexandre de Moraes é citado 19 vezes.
Por fim, alguns de seus interlocutores têm defendido que é hora de deixar a defesa técnica e partir para uma defesa política, tal qual Lula fez na Lava Jato.
Uma visão que dialoga com a militância no sentido de apontar uma manipulação do sistema judicial para prender um adversário político. Se levada adiante, ela mantém a corte como antagonista do ex-presidente e frustra qualquer tese de recuo e composição.
Cristiano Zanin ao colocar em prática a tese do lawfare a favor de Lula nunca mirou o STF, mas, sim, Sergio Moro e Deltan Dallagnol. E embora haja falas de Lula no auge da operação criticando a corte — como “O STF está acovardado” –, elas só apareceram mediante um vazamento de interceptação telefônica. O ex-cliente de Zanin, Lula, e os petistas em geral, nunca foram para o confronto com o STF. O alvo sempre foi Moro e Deltan. Acabou solto e virou presidente pela terceira vez.