Abin não fez alertas sobre atentado, dizem fontes
Um dos motivos relatados seria a precariedade dos instrumentos disponíveis na agência
Funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) relataram à CNN que o órgão não produziu relatórios preventivos de alerta sobre o atentado ocorrido em Brasília na noite desta quarta-feira (13).
Um dos motivos, segundo essas fontes, seria a precariedade dos instrumentos hoje disponíveis na agência.
Os relatos são de que a Abin não renovou na atual gestão contratos de softwares utilizados para monitoramento de redes sociais que poderiam ter sido utilizados para prevenir o atentado.
Isso porque Francisco Wanderley Luiz, que morreu durante as explosões na Praça dos Três Poderes, fez uma série de publicações nas redes sociais horas antes do ocorrido.
Servidores da Abin disseram ainda à CNN que a agência utilizava, até o final de 2022, dois sistemas, o Digital Clues e o Profiler, cujos contratos não foram renovados.
Eles também apontaram que a intenção era prospectar uma nova solução para o monitoramento de redes em 2023, mas que a ideia “nunca saiu do papel”.
Esses softwares possuem robôs com filtros que rastreiam atividades suspeitas nas redes sociais e produzem alertas que são encaminhados aos órgãos responsáveis para permitir o potencial ilícito detectado.
Além disso, medidas internas teriam ampliado as dificuldades para o serviço de inteligência, como o acesso ao Infoseg, sistema que integra bases de dados das secretarias de segurança pública.
Há ainda um déficit grande de pessoal. Segundo dados do Ministério da Gestão, há 3458 vagas em aberto na Abin, o que corresponde a 75,6% do total. O índice é bem maior que o de órgãos como a Polícia Federal (15,74%) e Polícia Rodoviária federal (6,74%).
Foram esses motivos apresentados para que a agência não tenha conseguido produzir alertas sobre o atentado, diferentemente dos ataques de 8 de janeiro, quando foram dados avisos nos dias anteriores aos órgãos de segurança.
Na noite desta quarta-feira, horas após as explosões, funcionários da Abin divulgaram uma nota que apontam como o sucateamento do órgão afeta a atividade de inteligência do país.
A CNN encaminhou na manhã desta quinta-feira (14) as seguintes perguntas à Abin, mas não houve resposta:
- se o acompanhamento preventivo de redes sociais que a Abin fazia continua a ser feito;
- se não, por que foi interrompido? Se sim, por que não foi detectado preventivamente o evento tendo em vista que o homem postou nas redes sociais que faria o ataque?
- se ocorreu alguma restrição de acessos e contenção de pagamento de ferramentas de monitoramento de redes de 2022 para cá, como fim de contrato sem renovação;
- se procede a informação de que os contratos para utilização do Digital Clues e Profiler foram encerrados no final de 2022. e não renovados;
- se não foram renovados, qual o motivo? Foi feito contrato para utilizar alguma nova ferramenta?
- se há restrição de acesso a servidores de bancos de dados como o Infoseg.