Formada em Relações Internacionais, com pós-graduação em Comércio Exterior, Camila Ozório, de 42 anos, faz parte de um seleto e escasso grupo de negros que chegaram ao posto de CEO de empresa. “Muitas vezes me questionei se era a cor ou não”, afirmou à CNN.

Dados inéditos do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) – divulgados em primeira mão para CNN nesta quinta-feira (7) – mostram que apenas 9 de cada 100 diretores em empresas exportadoras são negros no Brasil. O estudo traz recortes sobre representação racial, desigualdade salarial e escolaridade.

Apesar das empresas de comércio exterior serem mais inovadoras, produtivas e pagarem melhor, as companhias multinacionais também repetem o comportamento excludente do restante do mercado de trabalho. Mais negros estão empregados, mas há déficit desses profissionais no comando das empresas.

“O desafio começou em uma sala de aula que tinha 47 estudantes e somente 5 negros. Durante o período que estive na faculdade, participei de muitos processos seletivos. Eu vi os meus colegas sendo contratados, conseguindo estágio, oportunidades até para mudar de áreas se não estavam satisfeitos. E a minha hora nunca chegava. Era muito difícil estar finalizando o curso sem ver oportunidade. Parecia a sensação de estar escolhendo a área errada”, lembra Camila, fundadora e CEO da Ello Brazil Comex, que atua na capacitação de empresas a se tornarem exportadoras.

Camila começou a trabalhar em uma empresa de congelados como assistente até virar gerente de exportação. Durante esse processo, ela conheceu 26 países. “Às vezes, em eventos internacionais com mais de 50 empresas, eu era a única pessoa negra. A gente sente não ter outros de nós, sente falta de compartilhar”, lembra.

“Esse período foi desafiador, se ver líder. Mas uma líder que precisava de aprovação”, relata quando um parceiro comercial pedia para negociar com outros integrantes da diretoria da empresa.

Diretores e gerentes em empresas que atuam no comércio exterior ganham, em média, mais do que o dobro das empresas que atuam apenas dentro do Brasil. O estudo mostra, por exemplo, que gerentes de empresas domésticas ganham cerca de R$ 5 mil, enquanto aqueles que chegam às multinacionais ganham R$ 13 mil, em média. No caso de diretores, a remuneração sobe de R$ 14 mil para quase R$ 42 mil quando a empresa vende para fora do país.

Os bons salários costumam ser pagos, porém, principalmente para profissionais brancos. E independentemente de suas raças e tipo de empresas, homens tendem a receber salários superiores aos pagos a mulheres. O estudo mostra que profissionais que conseguem alcançar níveis melhores de educação têm mais chances de combater a diferença salarial.

As exportações para a Ásia e a Europa são realizadas por empresas com maior proporção de trabalhadores negros, comparado às demais regiões. Isso ocorre porque, entre outros fatores, cerca de 40% das exportações para a Ásia e a Europa vêm das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.

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