Aliados de Bolsonaro fazem autocrítica sobre relação com Moraes
Avaliação é de que governo construiu relação ruim e fechou portas no STF de forma precoce
Auxiliares de Jair Bolsonaro têm feito reflexões e lamentado a inabilidade do antigo governo em tentar um bom relacionamento com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
À CNN, sob a condição de reserva, ainda no primeiro dia do julgamento que tornou o ex-presidente réu por tramar um golpe de Estado, um desses auxiliares levantou a seguinte dúvida: “por que Bolsonaro e Moraes não se deram bem?” O próprio respondeu: “porque em nenhum momento trabalhou para construir um meio de campo com o Judiciário”.
Foi justamente durante os quatro anos do governo Bolsonaro que Moraes ganhou destaque e comandou casos caros ao ex-presidente: atos antidemocráticos, fake news, milícias digitais e inquérito do golpe. Tudo foi parar no gabinete do ministro indicado por Michel Temer, que vem a ser uma espécie de conselheiro de Bolsonaro. Nem assim, houve abertura para uma possível relação entre Moraes e Bolsonaro.
“O cara que era o mais fácil de se aproximar ideologicamente. Foi uma falta de tato sem fim, dos dois lados, mas principalmente do Bolsonaro”, afirmou outra fonte que escolheu a sede do Partido Liberal (PL), em Brasília, para acompanhar a segunda sessão de julgamento, nesta quarta-feira (26).
A dificuldade de relacionamento com ministros da corte é apontada como a maior diferença entre o julgamento do plano de golpe com, por exemplo, o caso do mensalão.
Juristas que acompanharam os dois julgamentos fazem uma análise na mesma linha. A avaliação é de que, no caso que condenou uma série de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o clima era melhor porque os réus tinham “bom trânsito” na corte.
No caso dos bolsonaristas, praticamente nenhum tem essa ponte estabelecida. Logo, os advogados falam em nome de figuras que colecionam críticas diretas ou indiretas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O Supremo não está julgando para a plateia, está julgando em reação ao bolsonarismo”, alegou um conselheiro do ex-presidente à CNN, que seguiu com ele mesmo após o fim de governo.
Na sessão desta quarta-feira (26), no entanto, ministros fizeram questão de reforçar que a denúncia seria aceita porque há “indícios”. Ressaltaram que provas não podem ser confundidas com “ilações”.
O esforço foi por afastar teses de que os magistrados votaram por razões pessoais ou subjetivas. Não à toa, a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi aceita por unanimidade.