Papa Francisco organiza evento global exigindo taxação dos super-ricos
Presidente Lula deve enviar mensagem de apoio ao encontro que será realizado no Vaticano nesta quinta-feira (13) para defender “justiça tributária e solidariedade”
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O papa Francisco vai liderar um grande evento global para defender a criação de impostos sobre as fortunas dos chamados super-ricos, as pouquíssimas pessoas que possuem patrimônio superior a US$ 1 bilhão.
O encontro inédito vai acontecer nesta quinta-feira (13), em pleno Vaticano, e contará com a presença de vários líderes globais e economistas que defendem a redistribuição de renda.
Trata-se de uma discussão de alto nível chamada de “Justiça Tributária e Solidariedade: Rumo a Uma Casa Comum Inclusiva e Sustentável”.
Vários líderes já mandaram mensagens de apoio que serão apresentadas no evento, como o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Os organizadores dizem que também esperam uma mensagem gravada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos grandes defensores da taxação dos super-ricos para financiamento de políticas sociais globais como o combate à fome e às mudanças climáticas.
Segundo o Vaticano, o evento acontece em “um momento crítico, quando os ultra-ricos no poder estão moldando decisões políticas tentando minar a cooperação internacional para a reforma tributária”.
Nas redes sociais, os organizadores do evento fizeram vídeos criticando os super-ricos e também os poderosos, usando inclusive a hashtag #TaxTheSuperRich and #TaxThePower.
Durante a presidência do Brasil no G20, no ano passado, o grupo das maiores economias do mundo aprovou um comunicado concordando em explorar esse tipo de taxação.
A ideia, no entanto, terá certamente a oposição do novo governo americano do presidente Donald Trump e seus aliados na Casa Branca.
Assim como Lula, o papa defende há muito tempo a adoção de medidas tributárias que permitiriam a distribuição de renda como “um imperativo moral”.
O encontro reunirá palestrantes ilustres como Thabo Mbeki, ex-presidente da África do Sul; Aminata Touré, ex-primeira-ministra do Senegal; e os economistas Joseph E. Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel, e Gabriel Zucman – responsável pela proposta de taxar os super ricos e diretor do Observatório Fiscal da UE, além de coordenar os estudos técnicos feitos a pedido do Brasil, que nortearam as discussões sobre o tema durante o G20.
Zucman, que também é diretor do EU Tax Observatory, propôs a criação de um imposto anual de 2% sobre a riqueza de todos os cerca de 3 mil bilionários globais, o que poderia gerar cerca de US$ 250 bilhões em novas receitas para os governos investirem em saúde, educação e infraestrutura.
Em entrevista exclusiva à CNN Brasil, Zucman afirmou que a reunião no Vaticano, com a presença do papa, é “um passo importante para o avanço da discussão global sobre uma taxação mais progressiva e justa”.
“O papa carrega uma voz muito importante em todo o mundo. Portanto, o seu envolvimento nessas questões pode contribuir muito para acelerar a criação do entendimento compartilhado das soluções que existem para o problema (da injustiça tributária)”, afirmou.
Zucman lembrou que o governo brasileiro iniciou esse processo de discussões no ano passado quando colocou a questão da tributação de bilionários na agenda do G20.
“Isso deu início a um debate internacional sobre a conveniência e a viabilidade de um imposto sobre os super-ricos, que hoje pagam menos do que outros grupos da população”, disse ele.
Segundo os organizadores do encontro no Vaticano, as discussões se concentrarão no papel da tributação de corporações multinacionais e dos super-ricos na redução da desigualdade, no combate às mudanças climáticas e no financiamento do desenvolvimento sustentável.